Nada Suspeitos | Crítica 1ª Temporada: Mistério, piadas e confusões brasileiras em uma série divertidinha

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Embalado no sucesso das adaptações de Agatha Christie nos cinemas (com Assassinato no Expresso do Oriente e Morte No Nilo), de Mistério no Mediterrâneo, e de Entre Facas E Segredos, com uma sequência vindo aí na própria Netflix, temos aqui a série nacional Nada Suspeitos que se aprofunda no gênero do whodunit, o famoso “Quem matou?” e que entrega uma atração com um toque de brasilidade gigante para o formato.

Tradicionalmente esse tipo de atração faz muito sucesso por aqui por conta das novelas, mas a Netflix reuniu um elenco de comediantes e outras personalidades da mídia para entregam uma nova atração, em que temos uma vítima, e onde todos são suspeitos, sim. Com 11 personagens centrais, mais um detetive atrapalhado para contar essa história, sinto que Nada Suspeitos poderia ser uma ótima comédia se fosse um filme, mas aqui entrega apenas um seriado mediano seja em valor de produção ou em roteiro. É divertidinho, é espirituoso, tem boas intenções, mas tem muito episódio para pouca história. Menos é mais em alguns casos, e aqui é um deles. E nem precisa ser detetive para desvendar esse mistério.

Não é que a atração seja totalmente ruim, não é, é uma bem maratonável, afinal, a curiosidade em saber quem matou Jorginho Peixoto (Paulo Tiefenthaler, super canastrão mas bem) é maior do que algumas pataquadas que precisamos enfrentar ao longo do caminho, e ao longo dos episódios, até que curtos de 30 min mais ou menos de duração, dessa primeira temporada.

Elenco nacional da série Nada Suspeitos
Foto: Courtesy of Netflix

Ao juntar um monte de gente na mansão do falecido, Nada Suspeitos cria-se um mar de opções para o espectador tentar descobrir quem foi que deu cabo no ricaço. E fica claro a intenção do time de roteiristas em fazer uma grande paródia do gênero. Fica claro também que o seriado não se leva a sério em nenhum momento mesmo que o time de atores parece que se divertiu ao gravar as cenas da atração. Em Nada Suspeitos, descobrimos que Jorginho Peixoto não era flor que se cheire, mas também que as pessoas na qual ele se relacionava também não eram. Seja a atual companheira, a ricaça falida, mas ainda esnobe e de nariz em pé, Patrícia (Fernanda Paes Leme, sempre ótima nesse tipo de papel) e seu irmão, meio advogado, meio trapaceador galante Maurício (Romulo Arantes Neto), e a amiga meio maluca dona de uma SPA, Xandra (Gkay), ou ainda a ex parceira Bete (Maíra Azevedo), com a filha adolescente que tinha com o falecido chamada Yara (Gi Uzêda) que leva também a mãe Zanina (Dhu Moraes) e o irmão Áquila (Silverio Pereira, um espectáculo) para esse encontro, ou ainda a namorada/amante da igreja Thyellen (Thati Lopes, um dos destaques da atração) e o irmão Raul, cantor amador e mala (Cezar Maracujá). 

Assim, Jorginho chama todos eles para tratar de negócios, e o grupo é recebido pelo mordomo Washington (Eliezer Motta) e pelo cozinheiro Darlisson (Raphael Logan), onde todos eles vão viver uma caótica noite. Sim, no final desse grande encontro de famílias, o anfitrião é encontrado morto… com uma faca… no escritório, e todos eles são suspeitos. A chegada do detetive Charles Nunes (Marcelo Médici, hilário) e seus métodos não muito convencionais dão um gás para a investigação desenrolar, mesmo que Nada Suspeitos dê um foco maior nas relações desses personagens do que propriamente dito no mistério que cerca a temporada.

Particularmente, o maior problema com o seriado é que faltou dar uma bela enxugada na história, temos personagens demais, temos tramas paralelas demais e são poucas delas que se seguram e são interessantes para serem contadas ao lado da trama da investigação se formos analisar pela quantidade de episódios que o primeiro ano oferece.

Nada Suspeitos precisava muito voltar para a ilha de edição e levar uma tesourada, trocadilhos a parte. Claro, do jeito que a série se apresenta, temos a oportunidade de Lopes, Pereira e Médici usarem mais do humor físico com seus personagens, mesmo boa parte das piadas soam um pouco menos caprichadas, o trio se garante e se destaque e muito dos colegas. Afinal, em relação a atuação de alguns deles, a grande suspeita é como foram parar lá….haja festa para bombar em redes sociais. Mas como falamos, menos é mais e a atração sofre com esse inchado igual com Xandra sofre seu seus florais.

Até mesmo quando Nada Suspeitos resolve realmente focar nas pistas que o detetive Nunes (um quê de Steve Martin em A Pantera Cor de Rosa) quase sempre deixa passar, se não fosse o olhar afiado da jovem Yara para as informações do caso, a série tem seus altos e baixos, como se fosse uma música horrível que Raul resolve compôr, e cantar, do nada. Assim, para cumprir a cota dos 9 episódios encomendados, Nada Suspeitos atira para todos os lados para mostrar provas e dicas de quem pode ser o assassino/assassino do morto.

Ao longo dos episódios vamos a conhecer mais dos personagens, seus segredos e conexões com o morto, onde a cada episódio eles se tornam mais suspeitos do foram anteriormente. A série tem algumas reviravoltas interessantes, as pistas desse quebra-cabeça são entregues aos poucos ao longo dos episódios, na medida que temos festas, reuniões de família na piscina, e churrascos depois que as três famílias que o falecido tinha vão morar embaixo do mesmo teto por conta das investigações.

Alguns personagens se destacam mais que outros, algumas tramas são repetidas e repetidas ao longo dos episódios, o que dá uma bela cansada, mas a série tem uma caminhada até bacana em seus episódios e os lá da metade entregam algumas mudanças para os rumos da narrativa.

Destaco ao longo da temporada os episódios, 1×02 – Nem sempre é o mordomo, 1×03 – Escreveu não leu, o pau comeu e 1×06 – A reconstituição e 1×08 – O Amigo Secreto. Junto com o final de temporada, esse grupo de episódios entrega o que Nada Suspeitos tem de melhor.

No final das contas, até mesmo o humor mais simples, e nada refinado, não atrapalha muito o trabalho do time nacional de atores conhecidos do grande público que devem ser os responsáveis por fisgar a atenção de Nada Suspeitos. Sem ter o mesmo charme de Maldivas, que estreou quase com a mesma temática e muito mais divulgação pela plataforma, Nada Suspeitos garante episódios com a temática Quem matou? que entregam um bom divertimento mesmo que com uma execução que deixa um pouco a desejar. 


Nada Suspeitos disponível na Netflix.

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