quinta-feira, 24 abril, 2025
InícioEntrevistas"Eu quis que existisse uma história por trás dos figurinos..." afirma Ronny...

“Eu quis que existisse uma história por trás dos figurinos…” afirma Ronny Dutra, o diretor da versão 2025 do espectáculo Wicked

O espectáculo Wicked retorna para os palcos brasileiros com 80 mil ingressos vendidos na pré-venda. informação foi dada pelo produtor Carlos Cavalcanti na noite de estreia do musical em São Paulo no dia 20.

E alguns dias antes, o ArrobaNerd teve a oportunidade de bater um papo com Ronny Dutra, um brasileiro que vive nos EUA e que assumiu a direção da versão musical de 2025 depois de uma série de reuniões com Stephen Schwartz, o icônico produtor da versão da Broadway do espectáculo.

Wicked retorna aos palcos nacionais impulsionado pelos filmes, fãs fervorosos e terá novidades

Wicked retorna para o Teatro Renault em temporada que vai de Março até meados de junho e com boa parte de ingressos esgotados para as primeiras sessões. Para 2025, teremos novidades. A que mais chama atenção, claro, foi que o figurino das protagonistas foi repaginado (confira a imagem abaixo). Se o figurino mudou, quem usa os vestidos chamativos nos palcos continua igual. As atrizes veteranas de teatro musical, Myra Ruiz e Fabi Bang retornam como as personagens depois de terem interpretado as bruxas Elphaba e Glinda, respectivamente, nas versões anteriores.

O que muda no palco, é o resto do elenco, formado por novos atores, e que tem a chance de darem vida para esses personagens consagrados. É o caso de Karin Hils como Madame Morrible, Baccic como Mágico, Hipólyto como Fiyero, Luisa Bresser como a jovem Nessarose, Thadeu Torres como Boq e também Arízio Magalhães como o Dr. Dillamond. 

E não é só novos nomes no elenco e figurinos inéditos que marcam as novidades paraWicked 2025. A produção promete uma montagem diferente e mudanças nos cenários, iluminações e efeitos especiais.

Assim, Dutra comenta um pouco sobre os desafios da nova versão, o boom vindo do lançamento do primeiro filme (que foi indicado ao Oscar e as atrizes principais receberam indicações nas categorias de atuação) e o que os fãs podem esperar dessa nova versão da peça.

Foto: Ateliê de Cultura. Todos os Direitos Reservados.

ArrobaNerd: Teve aquela história que as pessoas estão saindo das sessões no West End [a Broadway de Londres] por conta dos spoilers de Wicked: For Good [sequência do filme que chega nos cinemas]? Como vocês tão lidando com essa questão aqui na versão de 2025?

Ronny Dutra: Gente me falaram isso… mas não sei se isso é verdade!

ArrobaNerd: É não sabemos, mas saiu nos tabloides britânicos que é! [Via Mirror e The Sun]

Ronni Dutra: Mas isso é muito louco né? Se eu vou assistir [a peça] eu já entro para a segunda metade né?

ArrobaNerd: Exatamente! Mas a questão é: levando em consideração quem só viu o filme e está na expectativa para a parte 2, isso teve alguma influência para a produção edição 2025 de Wicked? Vocês pensaram nisso levando em conta esse tipo de espectador?

Ronny Dutra: Não, não pensamos nisso, então, a resposta é simples: Não! [risos]

Mas o que eu tenho a dizer sobre isso é que; venham, assistam, venham, assistam, o filme é o filme, a peça é a peça, vai tomar spoiler, vai, mas tudo bem, eles vão fazer isso diferente no filme, sabe?

Mas isso é muito legal porque muita coisa, muita das ideias da peça acabaram sendo ideias que eles fizeram no filme, e as pessoas não vão conseguir não comparar. E tá tudo bem, porque [o filme] tá aí, né? [O espectáculo] tá aí para a gente ter essa experiência. Mas a segunda parte do filme ainda não veio. E o que a gente tá fazendo na peça, eu já ouvi dizer do próprio Steven [Schwartz], que ele falou: “Caramba, muita coisa que vocês estão fazendo [na peça] é muito igual o que a gente fez no filme.”

E é uma honra saber que eu tô nesse vernáculo energético de ideias com o Jon M. Chu [diretor das duas partes de Wicked], com o Steven Schwartz. Então, eu falo para todo mundo, vem ver, se quiser sair no primeiro no ato, saia. Mas vai perder algo muito legal no palco, eu prometo.

ArrobaNerd: Como vimos nas fotos de divulgação da edição 2025, temos novos figurinos, mas o que você pode contar de outras novidades? O que você pode contar de maneira geral?

Ronny Dutra: Sim, temos muitas novidades. Não sei se posso te contar [muita coisa]… mas eu posso falar que quando o Carlos [Cavalcanti], ele anunciou que a gente tinha três sistemas de voo e tudo mais. Muitas pessoas começaram a especular aonde os voos seriam [no contexto da trama do espectáculo]. Muita gente bateu na trave, muita gente falou coisas que foram muito próximas, talvez, algumas pessoas falaram coisas que de fato vão ser…. mas o que eu acho que elas não estão esperando é a combinação de todos os elementos, sabe?

Porque é muito fácil a gente olhar, por exemplo, para um figurino novo e falar: gosto, não gosto. Tudo bem, podemos ter opiniões, devemos ter opiniões. Mas o que eu digo é o seguinte, esse figurino ele é parte de um todo. É um parte de um todo que se completa.

Então, por exemplo, o próprio figurino da Glinda, eu quis que existisse uma história por trás dos figurinos, que foram executados com um brilhantismo gigantesco com a nossa equipe de criação. Então, assim, é um azul claro, porque eu gostaria que fosse uma homenagem ao vestido dela da Bolha do original, né? E o vestido dela da Cidade das Esmeraldas tem o rosa, tem o azul, tem o branco, que é uma homenagem a todas as cores que ela utiliza….

Já o rosa que ela usa em Popular, é um aplique de vários rosas que vocês vão ver quando saírem as fotos. Então assim, existe essa jornada até ela chegar no vestido da bolha que tem uma razão por ser do jeito que é.

Mesma coisa com a Elphaba. A Elphaba começa de calça e aí ela vai se transformando e ela decide usar um vestido para o baile e esse vestido vira alguma outra coisa que vai virando outra coisa, que no final do segundo ato ela já tá com esse vestido que é a representação de uma força da natureza. É como se ela mesmo fosse colocando elementos diversos no vestido dele, que é um contraste gigantesco com essa beleza clássica que é o vestido da Glinda, né? Então a gente tem esses esses dois lugares.

ArrobaNerd: Durante o bate-papo com a imprensa, vocês [ele e o produtor Carlos Cavalcanti] falaram muito sobre a importância de Wicked estrear em terminados momentos e determinados contextos políticos e sociais. Como você vê a importância para o retorno da peça esse momento atual e nesse contexto pós boom do filme?

Ronny Dutra: A História se repete. A História do mundo é repetitiva. A História do mundo ao longo dos anos, de uma dezenas de anos, passamos por diversas crises diplomáticas, crises na democracia, crises de ditaduras e por ai vai. E eu acho que a criação do livro Wicked pelo Gregory Maguire de 1995 é uma representação do que acontecia nos EUA nos anos 90, na Era do Presidente Bush.

O Wicked, enquanto peça que conhecemos de 2003, foi já foi uma crítica ao governo do George W. Bush, que é o Bush filho. Já as versões de Wicked de 2024 e de 2025, com o filme de 2024 e agora a parte 2 em 2025 que vamos ter, também não é diferente. Eu acho que a gente vai se identificar de acordo com o que tá acontecendo no cenário político cultural do mundo.

E sim, o filme foi um boom, porque alguém, por exemplo, aqui no Brasil, que ainda não existe uma cultura de turismo cultural, de turismo teatral, poucas pessoas viajam no Brasil apenas para o Teatro. Não sei se é tão forte aqui igual nos EUA. Lá as pessoas dos 50 Estados se planejam para ir para Nova York ver [algum espectáculo da] Broadway. Então, alguém que não consiga vir para São Paulo ver Wicked, consiga apertar o botão na TV, e ter acesso a essa história e que é sim muito relevante. E que vai ter um impacto nessa pessoa sim. Essa pessoa tem uma opinião, ela tem um lugar na sociedade, e que acaba por ser impactado pela história de Wicked.

ArrobaNerd: Vocês já fizeram algumas previews pra a edicao 2025, tem algum momento da peça que vocês sentiram que o público engajou mais até agora? 

Ronny Dutra: Olha o que me surpreendeu mais, e é engraçado porque eu já tô tão acostumado com o texto, são as palavras que a Glinda inventa. Toda vez que ela fala alguma coisa inventada, tipo “EscandaciOZa”, a galera ri muito.

E a gente ficava: nossa, mas por que tão rindo? Ai falamos: “Ah, porque essa palavra não existe”. Só que porque na minha cabeça essa palavra já existe. Porque eu não rio mais disso. Isso foi uma surpresa muito gostosa, porque toda vez que uma palavra criada pelo Steven e obviamente feita pela versão do Vitor da Mariana vem para o vernáculo de Oz.

A plateia se engajou muito. Isso é muito gostoso porque é algo que eu de fato não estava esperando e nem vi nem vi chegando.

ArrobaNerd: Para quem tá embarcando no universo de Wicked tem alguma coisa que você recomenda entre filmes e séries para continuar no mesmo hype?

Ronny Dutra: Nossa tem muita coisa. A cultura do Mágico de Oz nos EUA é enorme. Diversas gerações conhecem o filme de cabo a rabo, as falas, as cenas. E até mesmo tem diversas homenagens e piadinhas com o filme clássico em Wicked. Algumas coisas não fazem sentido no contexto da adaptação aqui.

Mas eu sugiro que o pessoal assista O Mágico de Oz (1939)! Ou leia a obra original do  L. Frank Baum lá de 1900. O filme é um clássico e [dá a possibilidade] de entender de onde esses personagens vieram, de qual mundo elas vieram que vai realmente adicionar uma camada de entendimento muito maior para quem vier ver o Wicked.

Produzido pelo Instituto Artium de Cultura em parceria com o Atelier de Cultura, Wicked está em cartaz no Teatro Renault em São Paulo com sessões de quarta até domingo.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

Artigos Relacionados

Deixe uma resposta

Newsletter

Assine nossa Newsletter e receba todas as principais notícias e informações em seu email.

Mais Lidas

Últimas