Duna: Parte 2 | Crítica: Denis Villeneuve entrega novo espectáculo

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O potencial de Duna (pelo menos antes do lançamento da Parte 1) era gigante, igual os vermes que circulam lá pelo deserto no filme.

E mesmo com a Parte 1 sido lançada na pandemia e com o Projeto Popcorn estralando na Warner Bros., época que o estúdio priorizou um lançamento híbrido, tanto nos cinemas americanos e quanto no streaming na antiga HBO Max (hoje Max), o longa conseguiu agradar a fanbase e ainda apresentar a história dos livros de Duna para um público completamente novo.

Ajudou também o fato que o longa foi indicado em 10 categorias no Oscar daquele ano (inclusive Melhor Filme), o elenco de peso que sempre foi o carro chefe da franquia, e claro a popularização de Duna no streaming ao longo dos anos em aquecimento para a Parte 2 que agora chega exclusivamente nos cinemas depois de ter sobrevivido a greve dos atores e de roteiristas. Sempre um evento histórico envolvendo esse projeto né?

Timothée Chalamet e Zendaya em cena de Duna: Parte 2. Foto: Warner Bros. Pictures/ Niko Tavernise. All Rights Reserved.

E para a sequência, o diretor Denis Villeneuve prometia alguma coisa muito maior e mais grandiosa. E com Duna: Parte 2 (Dune: Part 2, 2024) foi lá e fez. Aqui ele entrega, novamente, um espetáculo cinematográfico inigualável de se assistir.

É como se a Parte 1 tivesse sido mais como uma introdução para o mundo de Duna, sua mitologia, conceitos, e apresentação de locais e personagens, em resumo em um grande aperitivo, onde agora, a refeição completa vem aí com parte 2 em temos aqui, um longa muito mais direto e que vai logo de cara ao ponto.

É pah, pum, a trama começa logo onde o capítulo 1 da saga de Paul Atreides (Timothée Chalamet) termina: com o jovem e sua mãe Lady Jessica (Rebecca Ferguson) no deserto junto com os freeman comandados por Stilgar (Javier Bardem) depois que a poderosa família Harkonnen destrói a refinaria da especiaria em Arrakis, comandada pela Casa Atreides, em um ataque que ocasiona a morte do Duque Leto (Oscar Isaac).

Sem as amarras em precisar apresentar e introduzir Deus e o mundo, Duna: Parte 2 foca  muito mais em fazer a história acontecer e numa trama muito mais ágil sem deixar de debater questões importantes sobre essa situação que esses personagens vivem. Afinal, com todas as variáveis desse jogo de xadrez futurista que conhecemos no longa anterior já na mesa, Villeneuve aposta numa produção muito maior para continuar a contar essa história.

Sem deixar o tom épico e visualmente impactante de lado, o diretor só amplia o que foi apresentado lá na Parte 1 e faz isso da forma mais interessante e bonita de se assistir. Boa parte de Duna: Parte 2 se passa no deserto, onde vemos Paul e a freeman Chani (Zendaya) se conhecerem melhor na medida que novas situações que espelham as situações descritas na profecia sobre a chegada do Lisan al Gaib (o messias) se desenrolam depois dos eventos do primeiro filme.

Entre aprender a montar e dominar os vermes de areia (os seres gigantes do deserto), descobrir como andar pelo deserto sem fazer barulho, e até mesmo em momentos mais íntimos nas cabanas, a dupla aqui mostra que é o chamariz perfeito para atrair o público ao entregarem personagens tão interessantes de acompanharmos suas trajetórias, mesmo que sejam também figuras bem opostas em outras questões. 

E assim, Duna: Parte 2 além de nos dar mais tempo de tela para Zendaya, ainda continua a focar no coming of age de Paul que passa de um magrinho confiante para um guerreiro freeman poderoso e também introduz novos personagens que ajudam a sequência a se destacar narrativamente. Da dança das cadeiras pelo controle da especiaria, de Arrakis, e  basicamente do Universo onde a franquia se passa, a figura do Imperador (Christopher Walken excelente ao balancear essa mistura de um personagem frágil, mas completamente ameaçador) é apresentada juntamente com a sua filha, a Princesa Irulan (Florence Pugh).

São eles quem, efetivamente lideram, e tem todo o poder acumulado, mesmo que estejam completamente longa do dia-dia. Mas o que eles, todos os outros líderes das Grandes Casas e os Harkonnen liderados pelo asqueroso Barão (Stellan Skarsgård, excelente também e novamente irreconhecível) querem? Poder. E assim, Villeneuve posiciona esses personagens nesse campo de batalha que envolve o deserto, vermes gigantes que servem de carona se você souber os domar, poções azuis conhecidas como Água da Vida, e claro, as visões de Paul sobre o futuro.

Florence Pugh em cena de Duna: Parte 2. Foto: Warner Bros. Pictures/ Niko Tavernise. All Rights Reserved.

Na medida que as forças dos Harkonnen são surpreendidas pela aliança Freeman e o burburinho sobre Lisan al Gaib começa a se espalhar pelo deserto (graças a influência da Lady Jessica) e pelos povos religiosos, Duna: Parte 2 coloca esses personagens em rota de combate, onde Villeneuve aumenta todo o escopo cinematográfico para contar essa história.

São nas cenas de combate onde a frota dos Harkonnen destroem as cavernas dos Freeman, ou quando é vez dos Freeman atacarem os locais de extração da especiaria dourada-alaranjada, todas as explosões, os combates de mão, e até mesmo quando os vermes (agora muito maiores e ameaçadores) aparecem são coisas que fazem Duna: Parte 2 ser um filme muito maior, mais épico, e robusto do que o primeiro.

E não só na forma como Villeneuve retrata esses eventos, mas também em outros quesitos técnicos, que vão desde da trilha sonora (com o retorno novamente de Hans Zimmer), dos figurinos e das maquiagens dos personagens. Florence Pugh é o destaque da vez nessa parte, onde vemos a Princesa Irulan desfilar roupas das mais bonitas e que chamam atenção, num trabalho impecável da produção. Até mesmo para todos os carecas e esbranquiçados da Casa Harkonnen que continuam a se destacarem em tela, particularmente Skarsgård que entrega mais uma vez um personagem extremamente repulsivo.

E junto com tudo isso, basicamente o elenco inteiro está bem. De Chalamet para Rebecca Ferguson que voltam com esses personagens e podem expandir mais suas personalidades e realmente se transformarem das figuras dos nobres descolados com a realidade para personagens realmente mais complexos e multifacetados.

E até mesmo Zendaya que está realmente muito bem e agora tem bem mais o que fazer do que na Parte 1, para Javier Bardem (que garante mesmo que involuntariamente passagens mais cômicas) na medida que vemos Paul ser exposto para a cultura freeman e também para os hábitos, seja de higiene, de viver em comunidade, e estratégica de guerra do povo do deserto. E claro, Pugh que está incrivelmente cativante como a inteligente e astuta Princesa que tenta sair das sombras do pai e da Bene Gesserit e Reverenda Mãe (Charlotte Rampling) que também retorna com seus planos e maquinações para o também irreconhecível Austin Butler como um sociopata do clã Harkonnen que entrega um personagem ao mesmo tempo tão louco e imprevisível quando o tio na sua busca por poder.

Entre algumas reviravoltas narrativas e idas a novos lugares dentro do Universo da franquia, Duna: Parte 2 tem um propósito claro de continuar a trama sem meio que definir onde essa história vai acabar propriamente dito. Editado como se fosse mesmo mais um capítulo da franquia, a parte 2 apenas aquece a trama para seu inevitável final. Mesmo ainda não confirmado um terceiro filme, fica claro que a Parte 2 bebe dessa fonte, assim como foi em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e também com Star Wars: O Império Contra-Ataca de certo modo.

E ao mesmo tempo fica claro que Duna: Parte 2 é uma parte de uma franquia, o longa consegue entregar uma história com começo, meio e fim, bem definidos. No final, fica claro que quando bem feito, uma sequência pode sim se sobressair do que o original, e aqui não é preciso da especiaria e nem deixar os olhos azuis para saber que Duna: Parte 2 consegue fazer isso, e também aguçar nossa expectativa para sabermos o desfecho dessa história.

“Cadê a parte 3?” deve gritar com a voz interior das Bene Gesserit quase todo fã de Duna ao sair da sessão da Parte 2.

Nota:

Duna: Parte 2 chega nos cinemas em 29 de fevereiro.

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