Um Lindo Dia na Vizinhança | Crítica

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Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood, 2019) faz um filme sobre conexões. Aqui vemos um jornalista que tenta se conectar com sua família e que acaba por utilizar da figura de um dos maiores apresentadores da história da TV americana para fazer isso acontecer.

Tom Hanks in A Beautiful Day in the Neighborhood (2019)
Um Lindo Dia na Vizinhança | Crítica | Foto: Sony Pictures

Ao mesmo tempo, para nós brasileiros, o personagem de Sr. Rogers pode soar um pouco distante e sem muita afinidade afinal, o famoso comunicador não tem, pelo menos para aquele que os escreve, certa conexão com o lado parental que os americanos tem com o apresentador do programa matinal Mister RogersNeighborhood que foi ao ar de 1968 até os anos 2000.

Claro, Tom Hanks faz uma atuação incrivelmente carismática, precisa e encantadora, basta olhar vídeos do Sr. Rogers no Youtube que você entende as nuanças e os trejeitos que Hanks, indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, nos entrega e que contribuem para o funcionamento da trama. Mas, quando se tira da equação toda a presença do personagem de Hanks, Um Lindo Dia na Vizinhança se torna um filme escuro, melancólico e triste, pois reflete a personalidade amarga e pessimista de seu protagonista, tomado para um ressentimento gigante.

Vemos aqui, o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys) precisar reviver dolorosas lembranças do passado quando ganha a missão de entrevistar Roger para uma matéria na revista que ele trabalha. Ao conversar com o icônico apresentador, ao longo de diversas sessões Vogel começa a projetar diversas situações do seu passado com seu pai, que se amplificam quando seu primeiro filho chega. 

Assim, Um Lindo Dia na Vizinhança faz um longa que meio que demora para engrenar e mostrar para onde vai. E tudo se intensifica com a atuação carrancuda de Rhys se contrasta com a aura de alegria e positividade que Hanks passa, principalmente quando olha e fala com o espectador de tempos em tempos. A diretora Marielle Heller consegue utilizar a câmera para mostrar essa dualidade entre os dois personagens de uma forma muito bem trabalhada, com passagens interessantes de se acompanhar e saborear as decisões tomadas por ela seja em miniaturas em formato de bonecos, ou com os atores em tamanhos reais. 

Tom Hanks and Matthew Rhys in A Beautiful Day in the Neighborhood (2019)
Um Lindo Dia na Vizinhança | Crítica | Foto: Sony Pictures

Mas ao mesmo tempo que o filme capricha no seu visual, o roteiro da dupla Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue brinca com diversas situações para tentar deixar a história o mais lúdica possível e que acaba por soar muito forçado, e em vários momentos até mesmo sem sentido. É como se o espectador fosse um personagem coadjuvante dentro do filme, ali no canto, vendo os delírios de um homem branco de meia idade frustado lidando com sua masculinidade frágil. Um Lindo Dia Na Vizinhança abusa de metalinguagem para contar sua história, e talvez, essa mescla entre uma realidade e fantasia talvez seja o grande fator que prejudique o longa para engrenar como um drama interessante.

Hanks consegue graças ao seu talento, e como a figura do Sr. Rogers é utilizada no filme pelos produtores, trazer um pouco de leveza para Um Lindo Dia Na Vizinhança que acaba por criar uma certa expectativa para o espectador de que algum grande clímax poderá vir, mas que no final, nunca chega. Parece que estamos com o Sr. Rogers apertando as teclas do teclado com força e em bom tom com a oportunidade perdida desse filme mediano em ser excelente.

Nota:

Um Lindo Dia Na Vizinhança chega nos cinemas nacionais em 23 de janeiro.

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