The Handmaid’s Tale | 1×05 – Faithful

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Após um episódio mais focado no mundo exterior, The Handmaid’s Tale tem um arco mais intimista. Além de compreendermos um pouco mais sobre a verdadeira personalidade do Comandante, testemunhamos o momento em que June e Luke se conheceram e se apaixonaram. Também temos o esperado retorno de Emily! Vamos rever o que aconteceu em Faithful! Praise be! (Louvado seja!)

ALERTA DE SPOILER: Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos do episódio. Continue a ler por sua conta e risco.

As visitas ao escritório do Comandante continuam e ele começa a mostrar as garras. Como imaginei no episódio anterior, todos os livros indesejáveis foram queimados, isso inclui revistas seculares. Com qual intuito ele sentiu a necessidade de contrabandear tal item para dentro de sua casa apenas para agradar à Handmaid? Se cheguei a duvidar de sua firmeza ao aceitar o pedido de Offred tão rapidamente, essa impressão ficou no passado, sendo substituída por receio e apreensão. Fred não está mais jogando Scrabble, mas sim com Offred e ela parece perdida na brincadeira de sedução. Ao mesmo tempo em que faz a brilhante analogia do anzol, fica envaidecida pela atenção recebida.

Você encaixa em mim… como um anzol em um olho aberto.

O dilema moral em que Offred se coloca é interessante. Enquanto flerta com seu estuprador como forma de sobreviver, desenvolve sentimentos por Nick. Porém, se vê obrigada a ser estuprada por seu interesse amoroso por ordens de Serena Joy, que acredita que o marido seja infértil e, portanto, sendo a única forma de Offred engravidar. É como se você estivesse com sede e lhe obrigassem a beber uma piscina inteira em um único gole. Ainda por cima, é preciso que tudo seja feito com extremo cuidado e cautela, pois, caso Offred seja descoberta, será condenada por fornicação.

Essa é uma mudança curiosa de eventos. Serena Joy não demonstra compaixão por Offred, mas lhe oferece uma alternativa que pode lhe evitar um futuro sombrio. Se deixar engravidar por outro homem apenas para cumprir com seu “papel” seria uma forma de melhorar, em muito, sua vida. Teria ela mudado de comportamento após o Comandante se envolver em sua punição ou ela realmente não é tão vilanesca quanto imaginamos? Afinal, para Serena Joy, ela apenas precisa que uma Handmaid lhe dê um filho, não importa como. Não a vejo como aliada em momento algum da jornada, mas também não sei se teremos outro momento de explosão como o que tivemos quando Offred lhe disse que não estava grávida.

Emily está de volta! Ela não é mais Offglen, seu nome agora é Ofsteven e está totalmente abalada pós-Redenção. Pela primeira vez ela menciona o nome da célula de resistência da qual participava, Mayday, mas entende que sua prisão a incapacita de continuar na luta. É interessante vermos como a nova Ofglen está disposta a fazer de tudo para manter seu status quo. Enquanto Offred está vivendo seu inferno em Terra, Ofglen tem uma vida muito melhor do que tinha antes do golpe, quando era uma moradora de rua que se prostituía para financiar seu vício de drogas. É uma visão de mundo distorcida, onde o absurdo passa a ser normalizado pela constância de horror, onde um pequeno alívio da dor é considerado um grande benefício que não deve ser perdido por nada.

A forma como justapuseram as relações June/Luke e Offred/Nick é incrível por vários motivos. Offred se sente atraída por Nick, mas sente que estará traindo Luke. Porém, no passado, era ela quem se encontrava no meio de um relacionamento extraconjugal. Enquanto seu encontro com um Luke casado foi elétrico e cheio de paixão, teve uma sessão de estupro assistido com Nick. Inclusive, gostaria de saber a opinião de vocês: quando Offred toca no braço de Nick e ele para o estupro – ele fez o “depósito”? Ou aquilo foi um rápido acordo entre os dois para acabarem logo com aquela situação absurda?

E chegamos à parte que gostaria mais importante do episódio. Durante a Cerimônia, o Comandante começa a tocar Offred intimamente, o que é proibido. A posterior conversa no escritório é esclarecedora. Fred não tem compaixão nenhuma. Ele é o verdadeiro vilão da história. Para ele, o papel da mulher é apenas cumprir com sua missão biológica de gerar filhos e considera o livre arbítrio de escolher pelo amor algo extremamente perigoso que deve ser eliminado. Ele foi um dos responsáveis pela sentença de Emily. Eu tinha certeza que a culpada era Serena Joy, mas me pergunto se não foi ele quem levou a Offred anterior a cometer suicídio.

“Melhor” nunca significa “melhor para todos”. Sempre significa “pior para alguns”.

Devemos acreditar em Nick quando ele diz que é um Olho? Eu ainda desconfio violentamente dele, mas essa confissão foi muito fácil e espontânea, principalmente após a situação que passaram. Não é possível comparar com a rápida aceitação de Luke para se separar, pois ele e June já estavam se relacionando há algum tempo. Sua palavra aqui tem peso. Nick ainda não fez nada para merecer nossa confiança.

A tentativa de fuga de Emily foi sublime! Que momento fantástico! Era óbvio que o término seria frustrado, mas serviu para motivar Offred a seguir seus instintos, mesmo que sejam destrutivos. Dessa vez, duvido bastante que Emily receba uma sentença tão branda quanto a anterior, afinal, ela matou um Anjo (alguém pesquisa se crânios realmente explodem daquela maneira, por favor). Interessante notar que Offred utiliza o mesmo adjetivo que Luke usou ao descrever sua foto pela primeira vez: “invencível”. Talvez ela tenha interpretado as ações da amiga como um sinal. Eu só fiquei com uma dúvida nessa última conversa que tiveram: elas já não tinham se apresentado quando caminhavam pelo rio no segundo episódio? Estão sofrendo de perda de memória recente? Outro detalhe: como Serena Joy me pareceu indefesa e frágil nesse episódio. Sempre falando em um tom contemplativo e resignado. Eu entendi que serviu como contraponto para a voz de Offred, que planejava formas de assassiná-la enquanto conversavam, mas achei uma mudança muito brusca de comportamento.

E finalmente temos a primeira cena de nudez da série e estou muito satisfeito por terem explorado na mesma proporção os corpos masculinos e femininos. Não houve exageros nem gratuidade, apenas o necessário para entendermos que os personagens estavam se entregando à uma paixão proibida e fervorosa. A trilha sonora, como sempre, no ponto certo. E meus parabéns para a bunda do Max Minghella! Olha, que visão!

A Elisabeth Moss demorou em me convencer, mas nesse episódio ela foi realmente muito bem. Percebam que não estou dizendo que ela estava ruim antes, apenas que não havia notado nada de especial em sua atuação, mas agora sim percebi o motivo de a terem escolhido para o papel. A cena em que ela ouve do Comandante o que fizeram com Emily, a conversa com Nick na cozinha, a alternância entre o flerte e entorpecimento foram ótimos momentos em que ela soube transmitir as emoções de Offred com excelência. Está de parabéns!

Sempre que Nina Simone aparece em uma trilha sonora eu já sei que ficarei contente. Como se não bastasse o prazer que é ouvir essa cantora maravilhosa, vejam como se encaixa (ops) à situação, com a personagem pedindo um pouco mais de “açúcar” logo após a quentíssima cena de amor entre Offred e Nick. Outra música incrível é a instrumental da cena da Emily, triunfante, acompanhando seu momento de glória até a inevitável tragédia. A atemporal Can’t Get You Out of My Head não foi escolhida por acaso. Ela não foi utilizada para marcar o tempo na cena em que June e Luke se conheceram (mesmo por que, essa música é de 2001; como a série se passa nos dias de hoje, a linha temporal estaria errada), mas para indicar que aquele rápido encontro faria June repensar suas convicções sobre lealdade e amor.

O EVANGELHO DE GILEAD:

  • Enquanto alguns itens são expressamente proibidos sob a República de Gilead, alguns de seus Comandantes ainda têm acesso a eles através de contrabando. Por enquanto, vimos as revistas de Offred, o cigarro de Serena Joy e o café da Mestra de Janine. Isso prova que, do alto de seus postos de controle, eles não hesitarão em quebrar as próprias regras para satisfação pessoal.
  • Mayday vem do francês m’aider, uma versão encurtada de venez m’aider, que significa “venha e me ajude”.

O EVANGELHO PERDIDO DE GILEAD: (diferenças entre a série e o livro)

  • Por Lei, apenas as mulheres são consideradas inférteis e simplesmente sugerir que um homem seja infértil é considerado heresia e passível de punição capital. Na série, não há menção à Lei, há apenas o medo de represálias.
  • No original, Emily se mata antes de ser capturada pelos Olhos para que não consigam nenhuma informação sobre a Mayday. Todo arco de sua Redenção e tentativa falha de fuga foram criados para a série.

The Handmaid’s Tale é exibida no Brasil pelo Paramount Channel aos domingos às 21:00, com reprise segunda às 23:30, quarta às 21:00, quinta às 09:00, sexta às 00:25 e sábado às 22:00. Praise be!

Texto originalmente publicado no Apaixonados por Séries.