TIFF 21 | La Hija: Um suspense espanhol sobre maternidade e escolhas

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Do que se trata La Hija (The Daughter):

Do diretor Manuel Martín Cuenca, no longa acompanhamos a jovem Irene (Irene Virgüez) que tem 15 anos e vive num centro de detenção para menores. Ela está determinada a melhorar sua vida com a ajuda de Javier (Javier Gutiérrez), um educador do local. Ele oferece que a garota vá morar com ele e sua esposa Adela (Patricia López Arnaiz) na casa do casal que é um pouco afastada e nas montanhas da região. Assim, Irene pode se esconder e ficar o resto da sua gravidez hospedada lá com todo o conforto. A única condição é que ela dê para o casal o bebê que carrega. O frágil pacto com o casal poderá colocar tudo em risco na medida que a gravidez de Irene começa a mudar.

O que achamos:

O diretor Manuel Martín Cuenca repete a parceria com o ator Javier Gutiérrez depois que a dupla trabalhou junto no longa de 2017 chamado O Autor. E aqui, os dois entregam novamente um suspense daqueles de prender o fôlego e realmente nos deixa na ponta do sofá para saber o que vai acontecer. Marcado por um imprevisibilidade gigante, La Hija parece um daqueles filmes que vai para um caminho fácil, mas na medida que a trama se encaminha para o caos quando a jovem Irene (Virgüez, muito bem) resolve mudar o acordo verbal que tem com o casal que a hospeda, o longa ganha outros ares. Ares que fazem muito bem para o filme quando vemos que os personagens não vão tirar da cabeça as decisões que tomaram lá atrás. Afinal, ambas as partes, tem convicção que aquilo que eles querem é o melhor para eles, independente, do que, ou quem, eles precisam passar por cima para conseguirem aquilo que querem.

E La hija faz um filme sobre escolhas. E isso fica claro em diversas decisões que o trio de roteiristas formado por Alejandro Hernández, Manuel Martín Cuenca e Félix Vidal tomam ao longo do filme. Muitos caminhos óbvios são tomados (principalmente quando a presença da jovem não é mais por sua conta e sim como uma prisioneira), mas são opções que acabam por serem as melhores a serem tomadas para a trama dar certo, e que eu particularmente achei que foram as mais corretas para fazer o longa funcionar. Fica claro que existem inúmeros caminhos que La Hija poderia ter ido, sem dúvida nenhuma, mas na medida que as decisões são tomadas (principalmente quando Irene começa a interagir já grávida com o mundo exterior), e o passado, tanto de Irene com o retorno do seu namorado (Sofian El Benaissati), quanto de Javier e Adela, e seus traumas para conseguirem engravidar, são mostrados para nós espectadores.

É nesses momentos em que La Hija ganha um força muito grande. A chegada do investigador (Juan Carlos Villanueva que repete a parceira também com o diretor depois de O Autor) deixa que a trama do filme ganhe um ar mais perigoso de “tá, mas e agora o que vai acontecer?”, onde ficamos com a impressão que realmente tudo pode acontecer. Afinal, Irene já foi feita refém por eles. Ela será solta? O que será que o casal faria se fossem descobertos? Alguns desses detalhes são omissos em certas momentos chaves do filme para só depois, sabermos, lá na frente, o que aconteceu de verdade. Essas passagens importantes nos últimos minutos do filme nos ajudam a compormos esse quebra cabeça que o longa se apresenta sobre quem, no final das contas, vai terminar a história com a tal criança do título. Por que desde do seu começo, quando Javier pergunta para Irene se ela jogou fora seu celular, sabemos que em La Hija alguma coisa de errado vai acontecer com eles e que essa história não vai acabar bem para quem. E no final, é isso que acontece. Mas aqui sem spoilers.

Avaliação: 3.5 de 5.

Visto em sessão digital da edição 2021 do Festival de Toronto.