Pecadores | Crítica: Ryan Coogler no ápice da criatividade

Ryan Coogler está no ápice da criatividade do cinema de gênero com Pecadores que vai cravar os dentes em você. Nossa crítica do longa.

0
155
Try Apple TV

Com Pecadores (Sinners, 2025) fica claro que Ryan Coogler se firma, de uma vez por todas, como um dos melhores diretores atualmente em Hollywood. Coogler pode ainda não ter muitos filmes no currículo, mas entre qualidade e quantidade, o diretor tem levado uma certa vantagem já que definitivamente todos eles têm aquele negócio a mais e são projetos realmente únicos em sua própria maneira.

Dos filmes Creed, para os de Pantera Negra, Coogler já vinha se firmado como um bom diretor, mas agora com Pecadores o californiano mostra está no ápice de sua criatividade e sabe navegar pelo cinema de gênero como poucos. 

Photo by Courtesy of Warner Bros. Picture – © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

Pecadores, talvez, e por enquanto, seja o filme mais empolgante, criativo, imperdível do ano. O ano ainda está no começo, mas a competição vai precisar se esforçar muito para conseguir entregar alguma coisa que supere o que foi entregue aqui, já que é dificil não imaginar que Pecadores não deva pipocar na lista de melhores de 2025. Afinal, Coogler conta uma história tão incrível, tão bacana, tão visualmente convidativa que faz com que o filme fique martelando na sua cabeça logo quando acaba.

Com Pecadores, o diretor (e que também assume as funções de roteirista) consegue contar uma fábula vampiresca, que mistura crítica social e que entrega um impacto narrativo de fazer qualquer pessoa ficar de boca aberta na sala do cinema. E isso faz com que Pecadores seja a primeira grande experiência nos cinemas do ano e é um espectáculo visual daqueles. E Coogler sabe isso, e faz isso acontecer, seja na história, na forma como conta, e ainda como visualmente resolve contar essa história. Na medida que os pontos da narrativa vão se cruzando e conectando, depois de serem cuidadosamente apresentados, na primeira hora de Pecadores, a segunda embarca, nós, os espectadores, e os personagens, numa jornada brutal, sangrenta e tensa de fazer ficar colado na cadeira para saber o que, e como, tudo vai se desenvolver. 

E para isso, o diretor volta a trabalhar com Michael B. Jordan, que aqui faz a função dupla de interpretar dois personagens, e dois personagens distintos entre si, e também se cerca de outros nomes que se empenham para não deixar o ritmo contagiante que Pecadores entrega ser um problema. Um que mistura uma certa dose de suspense, de mistério, terror e de fantasia. 

E como a ajuda de Hailee Steinfeld, Delroy Lindo, para Jayme Lawson, Wunmi Mosaku e Jack O’Connell, Pecadores navega por essa comunidade sulista que vive num momento onde ainda existem divisões entre raças em lugares públicos e o poder, a lei Jim Crow impera, e a ameaça, constante, da organização supremacia branca da Ku Klux Klan ainda é sentido por todos da região do Mississippi. 

Coogler consegue colocar esses personagens, nesse contexto político social, para contar uma história que envolve mitos, superstições e folclore que é brilhantemente inserida na narrativa na medida que os irmãos Smoke e Stack (ambos B. Jordan) retornam para a cidade natal deles, Clarksdale, depois de anos em Chicago e criando uma certa reputação no submundo do crime. 

A ideia? Dos dois abrirem um estabelecimento para a comunidade local com bebidas, jogos e música. Feitas pelos pretos e para os pretos da cidade. Assim, boa parte de Pecadores é vermos a dupla de volta e a forma como esse retorno afeta as dinâmicas da cidade e os personagens que ficaram por viver nela depois que os dois irmãos foram embora. Ver Smoke e Stack recrutar os melhores para trabalharem por uma noite no estabelecimento deles é a forma como Coogler prepara a trama, e nós espectadores, para o que virá na segunda metade do filme e que vem de uma forma rápida e sem muita cerimônia. 

Photo by Courtesy of Warner Bros. Picture – © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.



Desde de escolherem a atração musical com o jovem Sammie Moore (Miles Caton em um dos seus primeiros papéis), o filho do pastor, e o veterano do blues Delta Slim (Delroy Lindo, impecavel aqui), para quem vai cuidar dos preparativos seja das comidas com a curandeira Annie (Wunmi Mosaku, num de seus melhores papéis), para o resto da comunidade que resolve abraçar a ideia, seja o casal Grace (Li Jun Li) e Bo (Yao), o falante CornBread (Omar Benson Miller) que é contratado para ficar na porta de segurança e também a jovem Mary (Hailee Steinfeld) que também está de volta para a cidade e tem um passado com os irmãos não muito bem resolvido. 

Munidos com dinheiro, lábia, e a ajuda dos colegas, Smoke e Stack colocam o plano em prática, e Pecadores, entra na sua hora mais doida, cativamente e que não poupa esforços para entregar alguma coisa diferente. Em uma das cenas, onde vemos o talentoso Sammie soltar a voz e impressionar a jovem Pearline (Jayme Lawson), Coogler entrega um banquete visual que faz o espectador querer cravar seus dentes na tela, como se fosse um vampiro necessitado de sangue.

Chega até ser um insulto para Pecadores, reduzir o filme a isso, já Coogler entrega aqui muito mais do apenas um filme de vampiro. Pecadores é sim sobre isso, e ao mesmo tempo, é muito mais do isso, sabe? E talvez, seja uma questão que possa afastar um público mais acostumado com um slasherzão, filme B. Mas Pecadores é coisa fina.

É sobre questões raciais, sobre o sobrenatural, sobre o poder da música, é tudo isso envelopado com uma qualidade impressionante e que também tem vampiros no meio disso tudo. Por que o tema está de volta em Hollywood e não temos uma história assim provocativa com o tema desde de True Blood.

E isso fica claro na medida que o debochado Remmick (Jack O’Connell) entra em cena e quer entrar na festa. Afinal, ele é um vampiro e precisa de convite para o tal feito. O que Pecadores se torna na medida que a noite vai desenrolar é uma coisa que realmente só eleva tudo o que já vimos sobre esses personagens e tudo mais.

E digo mais, quem fez projetos desse estilo, e de gênero, fez, por que agora Coogler colocou a régua tão lá cima, que vai ficar feio alguém tentar fazer e entregar alguma coisa pior. No meio das mordidas, no meio da brincadeira em tentar entender quem virou vampiro e quem não Coogler faz um retrato social da época de uma forma muito bem feita e que navega bem na forma que quer contar essa história.

Quando o amanhecer chega e quem sobreviveu às pilhas de corpos precisa lidar com as consequências da noite, Pecadores mostra que, às vezes, ser perseguido por vampiros talvez não seja a coisa mais aterrorizante que esses personagens vão ter que sobreviver. 

No meio do caos, do sangue, e da violência, Pecadores vai por terminar de contar essa história de uma forma que mexe com o emocional do espectador. Ainda mais quando o longa entrega uma espécie de epílogo que não só encerra a história de uma forma muito bonita, mas que ainda dá margem para a mesma continuar não só se a Warner Bros quiser uma sequência, mas quando os diretos da obra voltarem para o controle de Coogler, sua produtora e família. 

No final, o legado de Pecadores, vai viver e sobreviver, assim como os vampiros por anos. Basta só saber como se proteger dos sanguessugas e aqui Coogler se mostrou habilidoso com as armas que teve. Se possível, pegue uma sala premium para prestigiar Pecadores da forma como Coogler desenhou para ser prestigiado e fique até o final do filme mesmo.

Avaliação: 4 de 5.

Pecadores chega nos cinemas nacionais em 19 de abril.

Deixe uma resposta