O diretor Robert Eggers vem de uma carreira no terror bastante promissora. Entregou A Bruxa (2015), O Farol (2019) e O Homem do Norte (2022) um seguido do outro. E mesmo com uma legião de fãs que ganhou e galgou ao longo dos anos, Eggers poderia ser considerado um diretor de nicho, até então.
A habilidade de trabalhar com grandes nomes já foi colocada a prova com o longa sobre os vikings, seu último, mas é com Nosferatu (2024) que o diretor se populariza ainda mais e se firma como um dos nomes mais empolgantes para se acompanhar por aí.
Afinal é com o longa, uma história de obsessão sobre um vampiro e seu objeto de desejo, a jovem aparentemente normal, Ellen (Lily-Rose Depp) que Eggers consegue atualizar o personagem título, um tão antigo, e tão importante do cinema clássico, onde com Nosferatu o diretor redefine o gênero que primeiramente o colocou no mapa.
Nosferatu nada mais é que mais um trabalho visualmente impecável que Eggers apresenta em tela e isso fica claro logo nos primeiros minutos quando vemos o logo do estúdio subir de forma estilizada e diferente do tradicional. O que temos em seguida é o início de um conto de terror gótico, com uma atmosfera sombria, e ao mesmo tempo super convidativa, que se apresenta com um sentimento palpável de tensão que só cresce ao longo do filme.
Com um trabalho de produção de fazer inveja a qualquer produção de época, Nosferatu aproveita para envelopar sua história com figurinos vitorianos pomposos ao mesmo tempo que boa parte das cenas colocam os personagens em roupas simples de noite. E se esteticamente Nosferatu empolga, tudo em volta parece se curvar, não é só os dedos longos e as unhas compridas do Conde Orlok (um irreconhecível Bill Skarsgard), para ajudar a contar essa história. Claro, o roteiro (também de Eggers) se estende um pouco ao fazer mistério sobre a identidade do misterioso nobre que contrata os serviços da empresa que o jovem e ambicioso Thomas (Nicholas Hoult, num bom ano) trabalha, mas sinto que serve seu propósito narrativo de criar uma tensão sobre a identidade, e o visual, do protagonista bebedor de sangue.
Afinal, na medida que Thomas consegue encaixar o quebra cabeça sobre quem é, e principalmente, quais são as intenções e planos do seu cliente que o faz viajar por semanas até seu castelo nos confins do Leste Europeu, Eggers faz de Nosferatu uma crescente para lá de interessante. É como pegar no sono, e ver um sonho, se transformar num pesadelo, aqui na forma mais elogiosa possível.
Angustiante, sombrio, e por oras extremamente repulsivo, em Nosferatu, Eggers não poupa esforços, de entregar gore com passagens de fazer revirar o rosto, e outras de dar um pulinho na cadeira, o que faz o longa ser uma combinação para lá e interessante e sombria de diversas vertentes do terror.
De uma das melhores cenas do longa, onde vemos Thomas parado no meio da estrada, sozinho e com somente na vastidão da noite ao seu lado, perceber a chegada de uma carruagem, ou pelo trabalho de câmera que Eggers faz quando o personagem é apresentado para a figura do Conde Orlok, onde o diretor faz a introdução do vampirão sempre fora do foco principal do frame, e resolve mostrar partes, seja os olhos, as mãos, a voz. Para depois, em toda sua glória, bigode e corpo nu, nos apresentar para a figura do mal.
Hoult consegue fazer mais um personagem meio bunda mole e que contrasta bem com a figura dominadora dos outros personagens masculinos que são apresentados no filme, seja Orlok, ou até mesmo o colega Friedrich. É uma combinação interessante e que diz muito sobre o personagem em si. O longa, então, caminha para levar todos os personagens de volta para o outro lado da Europa, na famosa travessia que o vampiro fez de barco e que a tripulação sumiu, e a trama em si, parece ganhar uma certa infusão de ânimo, e ganha ares mais frenéticos na medida que novos personagens são introduzidos.
Eggers repete em Nosferatu o trabalho com Willem Dafoe que entrega aqui mais um personagem excêntrico, um consultor de misticismo e ocultismo, o Prof. Albin Eberhart von Franz que é contratado pelo Dr Wilhelm Sievers (um ótimo Ralph Ineson que dará voz para Galactus em Quarteto Fantástico) e pelo casal Harding, Friedrich (Aaron Taylor-Johnson vindo de O Dublê e Kraven, O Caçador em 2024) e Anna (Emma Corrin que deu as caras no mega hit Deadpool & Wolverine) que hospeda a jovem Ellen enquanto Thomas não retorna para casa e os ataques epiléticos da jovem só aumentam.
Assim, Nosferatu abre a cortina de sua história, se joga na mitologia vampiresca e realmente corre contra o tempo enquanto vemos os personagens murmurarem “Ele está vindo”, principalmente o repulsivo Herr Knock (um ótimo Simon McBurney) que serve se lacaio para o Conde Orlok enquanto o mesmo chega na cidade, cheio de ratos, para ir atrás do seu objeto de fascínio, a jovem Ellen.
Enquanto Orlok faz ameaças, anda pelos corredores com a mão levantada, e toca o terror pela noite, Nosferatu entrega momentos finais caprichados e cheios de simbolismos. Com um plano dentro de um plano, a noite segue, o alvorecer chega e a história de Nosferatu chega ao fim num impactante final que ficou de aluguel na minha mente durante um bom tempo.
Enquanto 2024 se preparava para se despedir, e os primeiros raios de luz de 2025, davam o seu olá, Eggers entregava com Nosferatu, o melhor do gênero, um terror que fechou o ano na maior nota possível: alta como o som aterrorizante, grotesco e animalesco que o vampirão faz quando morre nos braços de Ellen.
Nosferatu chega nos cinemas nacionais em 02 de janeiro.