sábado, 05 outubro, 2024
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Não Fale o Mal | Crítica: Diga sim para esse suspense 

Muita gente virou a cara e reclamou bastante no Twitter quando tivemos o anúncio que o longa dinamarquês Não Fale o Mal, Gaesterne no idioma original, ganharia uma versão americana. Afinal, é o padrão Hollywood com produções internacionais que dão certo por lá e furam a bolha. Mas acho que o fator primordial para prestarmos atenção, aqui, nesse “novo” Não Fale o Mal (Speak No Evil, 2024) é o elenco escolhido e que realmente está muito bem.

 Alix West Lefler, Mackenzie Davis e Scoot McNairy em cena de Não Fale O Mal. © 2024 Universal Studios. All Rights Reserved.

E mais do que isso, a versão americana sai das sombras da versão europeia ao conseguir contar essa história na linguagem do cinema Hollywoodiano e para o público americano. E Não Fale o Mal consegue se sair muito bem aqui e entrega uma história para os dois públicos que a versão americana, talvez, quisesse mirar. O primeiro é para quem já é familiarizado com a história do original. Não espere que a versão americana seja um copiar e colar não, afinal, aqui, talvez, os mistérios e as reviravoltas que a trama entrega (tão marcante no original) meio que até ficam em segundo plano.

E já para quem não viu, ou sabe nada da trama, já aviso que você pode esperar um bom suspense, sim e que a experiência de assistir o longa é extremamente válida. Pelo fato que o roteiro de James Watkins (que também dirige o longa) consegue construir um sentimento de tensão crescente ao longo do filme que na medida que as coisas vão acontecer e escalonar com os personagens e com essas duas famílias, o longa apenas ganha fôlego.

Não Fale o Mal é eficaz nesse trabalho de criar uma narrativa em que a cada cena afunila a história de uma forma extremamente angustiante de se ver. Não é um angustiante atmosférico, e sim, um angustiante de que você sabe que alguma coisa está errado e que o filme transmite uma sensação de: MEU DEUS DO SEU CASAL POR QUE VOCÊS NÃO EMBORA?

O tom, e algumas dinâmicas e passagens até soam meio estranho, mas o longa inteiro é marcado pela sensação que alguma coisa estranha ou está por acontecer, ou vai acontecer, em tela. Mas ao mesmo tempo, o filme não é explosivo e feito para te deixar efetivamente com medo, e sim, pelo, ao contrário, é na construção lenta que ele ganha pontos, afinal, o longa até é bastante claro e iluminado, e as coisas são muito sutis de se perceber. Seja por conta das distrações, como o sorriso e na espontaneidade do casal Paddy (James McAvoy, muito bem) e Ciara (Aisling Franciosi) que mascaram onde o perigo mora e que foi tão sedutor para o outro casal do longa, os certinhos Ben (Scott McNairy no começo de um bom final de ano nesse, como um marido meio bolachão aqui, em também em Canina, o Nightbitch) e Louise (Mackenzie Davis que realmente consegue entregar uma personagem insuportável como a há anos eu não via no cinema), seja pela diferenças que esse grupo tem entre si.

Num trabalho interessante que Watkins, o diretor acerta ao mostrar esse jogo de sedução enquanto coloca essas duplas em viagem de férias com os filhos, explora essa amizade recém feita, uma ensolarada, casual, e divertida e que serve como o ponto de partida para esse conto dos Três Porquinhos e o Lobo Mau que Não Fale o Mal meio que se apresenta se formos fazer uma analogia ao universo de monstros que a Blumhouse e a Universal (que lança esse) fazem. 

Afinal, enquanto Ben e Louise parecem viver em tensão, mesmo de férias, Paddy e Ciara estão aproveitando ao máximo. E isso meio que fica claro quando eles estão juntos ao longo da viagem. “Paddy você é malvado” , afirma Ben em uma das noites, regrada a vinho, quando eles finalmente conseguem se livrar de um outro casal mala que circula pelo mesmo hotel que estão hospedados.

E quando as férias acabam e a realidade bate novamente na porta deles, o casal de americanos se vê refletindo sobre os novos amigos que eles fizeram quando voltam para a cinzenta e chuvosa Londres. E quando as férias acabam e a realidade bate novamente na porta deles, o casal de americanos se vê refletindo sobre os novos amigos que eles fizeram quando voltam para a cinzenta e chuvosa Londres. Não Fale o Mal então coloca a dupla, a filha deles Agens (Alix West Lefler) e a pelúcia xodô da garota (e realmente causa algum dos maiores problemas para eles no filme) chamada Hoppy em uma nova visita para o outro casal de amigos, onde eles se reúnem novamente na fazenda remota, juntamente com o filho deles, Ant (Dan Hough, excelente) que sofre de um sério problema de fala e realmente é aqui que a trama começar a ganhar ares mais interessantes.

Dan Hough, Aisling Franciosi e James McAvoy em cena de Não Fale O Mal. © 2024 Universal Studios. All Rights Reserved.

E nesse jogo de seduções, as coisas vão por acontecer, e Não Fale o Mal vai por construir, e pavimentar, uma estranheza de cada vez para vermos Ben, Louise e Agnes lutarem contra a grande ameaça (em regata PP) que Paddy representa para a estadia do casal. É engraçado ver as concessões que o casal de americanos faz pela “nova amizade” e que nada mais é a forma como o casal de britânicos faz parte testar as visitas: da cama no chão extremamente desconfortável para a jovem Agnes, dos lençóis encardidos, para a cena do frango rolar depois de repetidamente Louise dizer ser vegetariana e para o sentimento que as coisas não vão nada bem quando uma família tenta se meter na criação dos filhos dos outros.

São as pequenas situações, são as pequenas paranóias que viram uma bola de neve, quando vemos os “três porquinhos” encurralados pelo grande Lobo Mau. Não Fale o Mal coloca então as cartas na mesa e a trama passa de ser apenas sugestiva ou coisas na cabeça de Ben e Louise, e realmente engrena de uma forma que realmente fica claro que tudo pode acontecer.

Os momentos finais, pelo menos os 20 minutos finais, mostram os personagens guiados pela imprevisibilidade. É como se estivéssemos em um Esqueceram de Mim enquanto os personagens se perseguem pela casa. É um jogo de gato e rato extremamente bem feito e que trabalha no desenvolvimento desses personagens, suas motivações, e suas ações e consequências até o último momento. E McAvoy consegue virar a chavinha de seu personagem com uma habilidade incrível de se assistir em tela que há tempos ele não mostrava. Talvez desde de Fragmentado, seu melhor trabalho até então.

E no final das contas, Não Fale o Mal mostra que não precisa de muito para saber, e conseguir, contar uma história, e principalmente uma boa e assustadora história a sua maneira. Você começa rindo com as diferenças entre os casais e sai tenso da cadeira com como tudo se desenrola naquela fazenda.

Nota:

Não Fale O Mal chega em 12 de setembro nos cinemas nacionais.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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