É curioso pensar que há 8 filmes Missão: Impossível o personagem de Ethan Hunt do Tom Cruise recebe missões que são aparentemente tão difíceis e impossíveis, mas acabam por serem resolvidas pelo espião de uma certa forma ou de outra. E também há 8 filmes, vemos Ethan Hunt deixar um rastro de grande rastro de destruição, mesmo que de certa forma, o personagem acaba por salvar o mundo de ações globais que teriam consequências perigossimas para a humanidade.
E sinto que Missão: Impossível 8 – O Acerto Final (Mission: Impossible – The Final Reckoning, 2025) é realmente a culminação desses anos de correrias, máscaras de látex, acrobacias, e claro, de missões que se autodestroem após 5 segundos. No novo filme da franquia, fica claro que Ethan Hunt vai precisar continuar a lidar não só contra a grande ameaça IA do filme anterior, mas também terá que enfrentar todas as consequências das ações que ele tomou ao longo dos anos.

E isso parece ser o mote, ou o tema, que recentemente tem sondado Hollywood já há alguns anos: contar histórias sobre o poder que um único indivíduo tem sobre o decorrer de grandes eventos que acontecem no mundo que esses filmes se passam. Zack Snyder tratou disso em sua versão do Superman e alguns anos depois James Gunn parece que vai tocar na mesma tecla com a sua versão de Superman. Mas Ethan Hunt não é um super-herói, e sim, um homem comum, mesmo que extremamente habilidoso, e sortudo, assim por dizer.
Fica claro que a missão em Missão: Impossível – O Acerto Final é uma que mais se parece impossível de ser comprida. Afinal, exige de Hunt driblar a astúcia da inteligência artificial e também os egos dos políticos que comandam as nações mais poderosas do mundo e que veem as ações da IA acabar com o cenário político, econômico e social que se torna cada vez mais instável ao longo desses dois últimos filmes.
E Cruise, juntamente com o diretor Christopher McQuarrie, consegue entregar mais um novo e empolgante capítulo para a franquia. Um capítulo que soa como uma despedida, mas que também não deixa de ser mais um espectáculo visual obrigatório a se assistir na maior telona que você achar. Já que Missão: Impossível – O Acerto Final foi feito, desenhado, filmado, editado para ser visto e curtido novamente nela, enquanto vemos Tom Cruise em acrobacias que parecem tecnicamente impossíveis de serem feitas e que aqui o ator acerta na grandiosidade e complexidade que algumas das cenas exigem.
E o cara tem mais de 60 anos, viu? Missão:Impossível – O Acerto Final apela para passagens que realmente chamam a atenção não só pela forma como são feitas, editadas e realizadas em termos cinematográficos, mas como também ajudam a contar essa história e os desdobramentos que as ações do filme anterior tiveram quando a IA rebelde saiu vencedora do embate com Hunt alguns anos atrás.
Com uma repetição e um resumo dos acontecimentos do passado, pela voz marcante de Angela Bassett (aqui de volta como a Presidente dos EUA Sloane), Missão: Impossível – O Acerto Final mostra que Hunt tem uma última carta na manga para usar quando precisa não só voltar para perseguir o mercenário Gabriel (Esai Morales, de volta, e ainda mais canastrão do que no filme anterior), mas também resgatar a ex-parceira dele Paris (Pom Klementieff) que trocou de lado, e também ainda precisa lidar com o fato que a IA segue em sua tentativa de invadir o sistema armamentício das principais potências nucleares do mundo.
Assim, não só Hunt é um fugitivo, como também a equipe formada por Luther (Ving Rhames que esteve na franquia em todos os filmes), Benji (Simon Pegg) e Grace (Hayley Atwell, excelente e que consiga tirar novos grandes projetos por conta desse) que estão de volta e precisam ajudar o antigo espião a acabar com a ameaça virtual que é bem real de uma vez por todas.
Como bom filme de assalto e espionagem, Missão: Impossível – O Acerto Final se baseia em contar o plano mirabolante, impossível, e desafiador e depois em prática e que claro que nada vai se desenrolar como o planejado. E realmente, Missão: Impossível – O Acerto Final tem o plano que mais parece impossível e mais complexo e cheio de pontas e amarras de ser resolvido. Afinal, é um com muitas peças, variáveis e condições que precisam dar certo num piscar de olho e em poucos segundos. E enquanto os personagens discutem toda a parte moral sobre explodirem o mundo o não.
Então, entre um debate e outro, Hunt vai colocar seu plano em prática. E a trama navega entre mostrar o personagem a convencer o governo americano de o deixar usar um porta aviões gigantesco e parte do arsenal militar zilionário dos EUA liderado por uma linha dura Almirante (Hannah Waddingham colhendo merecidamente os frutos pós Emmy de Ted Lasso), encontrar um ex-agente da CIA (Rolf Saxon) com que Hunt tem um passado que remonta ao eventos do primeiro filme, ou precisar encontrar um submarino da frota americana liderado pelo Capitão Bledsoe (Tramell Tillman, vindo do sucesso tremendo de Ruptura) que por sua vez tem missão de fazer com que Hunt ache, no meio do Oceano congelante, um outro submarino russo que afundou, aquele que tinha respostas sobre as chaves do filme anterior, e que nos apresenta e desenvolve mais sobre a origem e a forma como o grupo pode acabar com IA do mal de uma vez por todas.

Numa corrida contra o tempo, literalmente, Ethan Hunt corre por diversas partes do globo, mais uma vez. Só que dessa vez, parece que o peso de suas ações o carregam para baixo, e a dúvida fica: será que essa realmente pode ser a última missão de Hunt? Será que o personagem vence e sai vivo dessa? O mesmo questionamento vale para a Presidente Slone (uma ótima Basset) que precisa tomar decisões importantes e moralmente desafiadoras na medida que a IA hackeia os sistemas militares dos outros países do mundo que são também armados com unhas e dentes com orgias nucleares. Junto com Basset, os atores Janet McTeer como a Secretária Walters, Holt McCallany como o General Serling e Nick Offerman como o General Sydney tem boas cenas. São poucas, e eles são basicamente coadjuvantes de luxo, mas McQuarrie os uso de forma bastante eficaz já que basicamente coloca a câmera na cara de todos esses atores para mostrar o sentimento de tensão que vai crescendo na medida que eles, dentro do bunker, veem a IA detonando com os países rivais.
E na medida que a IA continua a evoluir, Missão: Impossível – O Acerto Final faz Tom Cruise e Ethan Hunt embarcarem num submarino embaixo do oceano (numa das melhores cenas do filme e com efeitos visuais no melhor estilo de Avatar: O Caminho da Água) e depois para uma localização remota em que ele precisa invadir uma instalação que serve de depósito tecnológico para um grande servidor de dados, para também colocar o personagem em uma luta em pleno ar com dois aviões tectec em que Cruise pula, salta, e bate nos vilões no ar.
E novamente, com pouco uso de efeitos especiais. Fica claro isso e é palpável que o longa fez muitas de suas cenas de forma prática. E digo mais, entrega todas elas com um ar cinematográfico de impressionar. Se eu fosse o time da Amazon, já estaria no telefone como diretor para ele assumir a franquia Bond nesse momento.
No final, Missão: Impossível – O Acerto Final conclui essa história de uma forma honesta, sem muito alterar o que podíamos esperar lá no filme anterior. Mas entrega esse novo capítulo com um senso de urgência narrativamente falando bastante grande, mesmo que McQuarrie abuse de cenas longas, a do submarino deve ter pelo menos uns 15 minutos, a do avião outros 15 min. Mas essas cenas se destacam das outras, já que no final ajudam a contar essa história de uma forma maior do que poderia ser.
Entre um humor divertido, o retorno de antigos personagens, e a introdução de novos, o novo (e possível último) filme da franquia, mostra que o mundo continuou o mesmo lugar perigoso de sempre, apenas que as regras do jogo de espionagem mudaram um pouco, onde a ameaça, e o tipo de ameaça sempre continuam a ser um empecilho para Hunt e seu time. Caso eles aceitem as missões que são oferecidas. Mas que outra opção eles tem né?
Missão: Impossível – O Acerto Final chega nos cinemas nacionais em 22 de maio.