sexta-feira, 04 outubro, 2024
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44ª Mostra SP | Mães de Verdade – Resenha

Longa tem direção de Naomi Kawase e seria exibido no Festival de Cannes em 2020, que foi cancelado por conta do coronavírus. Fez parte também do Festival de Toronto e pode ser a aposta do Japão para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Sinopse:

Após um longo e malsucedido esforço para engravidar, e convencidos pelo discurso de uma associação de adoção, Satoko e o marido decidem adotar um menininho. Alguns anos depois, a paternidade do casal é abalada por uma garota desconhecida e ameaçadora, Hikari, que finge ser a mãe biológica da criança. Satoko, então, resolve confrontar Hikari diretamente.

O que achamos:

É inegável dizer que Mães de Verdade (True Mothers, Asa Ga Kuru, 2020) não seja um filme bonito e tocante….mas a narrativa em zigue-zague, o vai e volta na história, e o roteiro que faz tipo a mãe do espectador, ao pegar na mão e explicar coisas que não precisam ser explicadas, afinal, muitas delas já foram mostradas em cenas minutos antes, prejudicam muito a forma que a diretora Naomi Kawase quer contar essa história.

Mães de Verdade flerta o tempo todo com a antecipação que alguma coisa mirabolante vai acontecer, mesmo sabendo que sua história não tem nada de fantasiosa, e nos deixa paranóico ao captura nossa atenção enquanto juntamos as pistas que o roteiro de Kawase e Izumi Takahashi nos oferece. Assim, seja ao focar em um casaco amarelo, em uma fala fora de lugar, ou um local misterioso em uma ilha, Mães de Verdade brinca com a sua própria narrativa para contar essa história sobre maternidade, amor, e escolhas.

Claro, Mães de Verdade tem uma preocupação incrível com os detalhes para efetivamente nos entregar tudo isso, e é através deles, e de uma sutileza sem tamanha, que o filme ganha força com a trajetória dessas duas mães, e outras mais, que passam pelo filme. É também, por conta desses pequenos detalhes, que o longa se apoia para tentar mostrar o poder da maternidade em diferentes etapas das vidas das protagonistas que vivem diferentes momentos, tanto em relação aos seus corpos, como também em seus estados mentais. Mães de Verdade conta com uma delicadeza incrível, e faz um olhar íntimo, sobre a interconectada história dessas mulheres que buscam darem amor para um jovem garotinho, independente se uma delas, é ou não, aquela que tenha dado à luz para ele.

Assim, ao mesmo tempo que o roteiro do drama amplia sua narrativa para dar espaço para conhecermos mais desses personagens, e termos uma contextualização das diversas cenas que estamos vendo, como por exemplo, quando Mães de Verdade pára sua trama para nos apresentarmos a figura do casal Kurihara, Satako (Hiromi Nagasaku, ótima) e Kiyokazu (Arata Iura), que celebram a chegada de um bebê, depois de algum tempo tentando engravidar, para depois vermos a parte da adoção propriamente dita, e depois sabermos sobre a mãe biológica, e em seguida a jovem tentando conhecer o garoto já mais velho (Reo Sato), também tudo nele é picadinho, como se estivéssemos assistindo uma série de TV.

E Mães de Verdade mostra como a chegada de um bebê pode afetar a estrutura de uma família, tanto para aqueles que tentam e não podem ter, quando aqueles que experienciam gravidez na adolescência. O longa ainda tem tempo para flertar com um mistério de será que a jovem (Aju Makita) é a mesma garota que deixou o Asato (Sato) quando bebê com os Kurihara? Será que ela é quem quis ser, depois de tantos anos? E por qual motivo decidiu retornar só agora? São essas pequenas coisas que aumentam a quantidade de tempo que o filme entrega, e infla sua história, pois afinal, são quase 2h30 de filme, que precisa dar respostas para essas perguntas.

E que no final, Mães de Verdade as dá para nós, o público, mesmo que demore muito para isso acontecer. No meio tempo temos algumas passagens bem reflexivas aqui e ali. E por mais que Mães de Verdade entregue uma boa história de verdade parece que ela é igual aquelas preocupações de mãe sabe? “Leva o casaco que vai esfriar” (e nem tá frio!), você sabe que no fundo ela tem razão, mas será que precisávamos ficar até o final para ver isso?

Avaliação: 3 de 5.

Filme visto em sessão virtual da 44ª Mostra Internacional de São Paulo em Outubro de 2020.

O longa tem previsão de chegar no circuito nacional em Novembro.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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