Jovens Bruxas – Nova Irmandade | Crítica: Filme não empolga e lança feitiço fraco no espectador

1
1181
Try Apple TV

I put a spell on you… bem não é bem assim. Jovens Bruxas – Nova Irmandade (The Craft: Legacy, 2020) vem de surpresa, afinal o filme foi anunciado às pressas pelo estúdio no meio da pandemia, onde lá nos EUA ganhou um lançamento em formato digital, mas chega agora nos cinemas nacionais 1 semana depois.

E essa campanha de marketing super-rápida infelizmente serve para tentar esconder que temos aqui, um filme ruim. E não é nem pelo fato que o longa faz um mix de reboot e sequência do longa dos anos 90, o até considerado cult Jovens Bruxas (1996), ou por que cai naqueles clichês de “Ai nem deveria existir” / “Tá estragando minha infância”, e sim por que é genuinamente um filme ruim em sua concepção e que falha em ser um bom produto cinematográfico e ponto final. Fim da discussão.

Por se tratar de um filme com a temática de bruxas, Jovens Bruxas – Nova Irmandade apenas falha em não conseguir lançar um bom feitiço no espectador. Em muitos momentos, ao assistir o filme, eu fiquei Cê jura que você vai para esse caminho? durante diversas das passagens que o longa de 2020 entrega.

E são inúmeros fatores que a magia do filme não funcionou comigo.

Jovens Bruxas – Nova Irmandade | Crítica
Foto: Sony Pictures

Jovens Bruxas – Nova Irmandade faz de tudo para o espectador se sentir parte de casa (ou seria do seu coven?). Primeiro que temos o mesmo tom narrativo do primeiro filme com a chegada de uma jovem garota numa escola onde ela encontra outras estudantes bruxas que a ajudam a descobrir seus poderes, em segundo lugar, a nova versão faz diversos outros acenos para o longa dos anos 90, como a frase celebre do primeiro filme “Nós somos as estranhas, moço”, visões rápidas e lampejos, rituais de magia e cobras misteriosas, e ainda temos, as personagens que cantam Alanis Morissette, e um dos clássicos dos anos 90, logo de cara no começo do filme.

Assim, tudo em Jovens Bruxas – Nova Irmandade é muito convidativo, afinal, estamos na Era do Girl Power e tudo que mais queremos num filme desses, era um grupo de bruxas bem fodonas para quebrar tudo, não é mesmo? Errado. 

Jovens Bruxas – Nova Irmandade apenas surfa nessa onda, e consegue deixar o filme com algumas passagens bem embaraçosas. Claro, toda a temática é super bem-vinda, com a diversidade (temos uma bruxa trans! falamos sobre bissexualidade!) que o longa se propõe e faz. Ao incluir certas coisas e debates é sempre muito válido, mas para um filme dirigido e escrito por uma mulher – Zoe Lister-Jones na sua primeira experiência como diretora – usar isso de uma forma tão fraca e sem nenhuma profundidade é apenas um erro gigantesco. E isso fica ainda pior quando vemos o que essas novas Jovens Bruxas precisam enfrentar e o que é efetivamente a grande a ameaça nesse novo filme.

O maior erro de Jovens Bruxas – Nova Irmandade acaba por ser não nos apresentar propriamente dito todas essas personagens do clã de bruxas, e de forma individual como pessoas que funcionam de forma independente fora do grupo. O roteiro de Lister-Jones não se dá o trabalho de nos fazer conhecer essas meninas direito, não nos faz se encantar com suas personalidades, e aqui, não conseguimos criar uma conexão com esse coven em formação. A mais conhecida dentre elas, a jovem atriz Gideon Adlon, da comédia Não Vai Dar (2018), como Frankie tem poucas boas piadas (Muito cedo?) e realmente rouba as cenas, já Tabby (Lovie Simone) tem uns discursos bacanas aqui e li, mas fica completamente fora do plano de destaque, e Lourdes (Zoey Luna) tem poucos momentos em tela que consegue se sobressair.

Elas até formam um grupo divertido e entrosado, mas mesmo assim, a atenção continua na protagonista Lily (Cailee Spaeny), a tímida novata que começa a abraçar seus poderes quando chega na escola sem conhecer ninguém e conhece esse grupo descolado. Toda essa parte, onde elas “recrutam” a garota para o coven, ensinam como canalizar seus poderes e abraçam a jovem, tanto no coven quando no grupo de amigas, é bem bacana, e realmente um dos poucos momentos que Lister-Jones acerta no longa, ao criar um sentimento de empoderamento, tanto bruxo quanto feminino. E por mais que tudo até aqui seja muito legal mesmo por algum motivo misterioso acaba por ser pouco trabalhado, desenvolvido, e passa muito rápido, é a duração de 1 música com 4 minutos (Seventeen).

Afinal, logo depois a trama já parte para desenvolver outro personagem (masculino num filme sobre mulheres bruxas!), o bad-boy Timmy (Nicholas Galitzine), uma das primeiras ameaças do coven, que do nada “acorda” e pára de ser um clichê heteronormativo e se transforma em um rapaz consciente da luta feminina de gênero, da busca por igualdade, e que usa palavras como “mulherxes” e diversas outras terminações da moda. Ai é caldeirão rolando ladeira abaixo, é tudo muito mal feito, mal trabalhado, falta personalidade e uma certa sagacidade em não usar o discurso de uma forma errada e que derrapa feio.

Mas nada é pior que o personagem do ator David Duchovny, como o padrasto de Lily e o o novo relacionamento da mãe da garota (Michelle Monaghan, apagada e sem brilho), e que no final é a grande ameaça que as bruxinhas precisam enfrentar. No momento que ele aparece em tela, é só somar 1 e 1 que o espectador saca para onde vai dar a trama, mesmo que eu fiquei torcendo para que o roteiro não fosse para esse caminho, mas ele foi. E outra, para que colocar o cara com três filhos, que aparecem brevemente, sendo que cada uma das cenas que os envolvem são passagens tenebrosas, e uma mais terríveis que as outras, pela amor de deus o que foi a cena de um deles no quarto com a Lily? Sim aquela cena do computador!. Elas são tão ruins que nos deixa com a dúvida, se você não vai desenvolver nenhum deles, qual o motivo deles na trama?

Jovens Bruxas – Nova Irmandade | Crítica
Foto: Sony Pictures

E toda a luta do grupo de garotas para desenvolverem seus poderes é completamente desperdiçada lá pela metade final do filme, afinal elas se privam da magia, mas nem é como se as vemos usar ao longa da história né? Pelo visto faltou orçamento?  É tudo jogado aos 4 ventos, e nem mesmo a ideia do círculo que emana os 4 elementos, ou os quatro ponto cardeais que elas representam, ajuda a deixar Jovens Bruxas – Nova Irmandade ser minimamente bom quando se trata do assunto.

O filme entrega poucas boas passagens, quando por exemplo elas já mostram o domínio um pouco maior mais de suas poderes, e quando estão todas juntas discutindo sobre mudança de corpos e sobre serem fãs da saga Crepúsculo e de Kristen Stewart. É aqui que Jovens Bruxas – Nova Irmandade acerta novamente, onde o filme poderia ser muito melhor que isso e perde outra oportunidade. Com um potencial completamente desperdiçado, todo o resto é um apanhado de cenas que chega a ser tão tedioso quanto tirar um coelho da cartola em show de magia infantil.

Nem mesmo a cena final (sim aquela!) que deveria fazer todo mundo falar sobre o filme consegue melhorar Jovens Bruxas – Nova Irmandade. No final das contas, Jovens Bruxas – Nova Irmandade entrega um legado que é marcado por a sua inexplicável razão de querer existir apenas por existir.

Avaliação: 2 de 5.

Jovens Bruxas – Nova Irmandade chega aos cinemas brasileiros em 5 de novembro.

O filme foi visto em casa, cortesia da Sony Pictures que nos enviou de forma antecipada para assistir e escrever essa crítica.

Recomendamos o leitor, se for encarrar a visita ao cinema, se proteger e seguir todas as recomendações de segurança contra o COVID-19 impostas pelas organizações de saúde.

Comentários estão fechados.