Desperados | Crítica

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A diferença que um bom roteiro e atores mais talentosos faz, não é mesmo? Lembram desastroso A Missy Errada (crítica aqui) lançado há algumas semanas atrás? Pois então, Desperados (2020) é tudo que o filme queria ser. Se formos pensar as tramas são bem parecidas, mas o novo filme da Netflix é como um drink gelado em uma praia mexicana quanto o outro é aquele incômodo chamado de meia molhada no frio.

Desperados tem uma trama completamente surtada e momentos embaraçosos sim, mas as piadas funcionam, o roteiro de Ellen Rapoport é divertido, e cara a atriz Nasim Pedrad tem um timing cômico incrível.

Desperados | Crítica
Foto: Cate Cameron/NETFLIX

Pedrad vem de uma carreira no humorístico americano Saturday Night Live e ganhou destaque no ano passado ao ser a companheira da Princesa Jasmine no live-action de Aladdin (2019) para a Disney – num papel que não existia na animação e foi criado para o filme – e agora chega a vez da atriz encarar uma protagonista e aqui não faz feio. Pedrad rouba as cenas, onde Desperados se apoia muito num humor mais físico para a personagem que está em busca do amor e parte em viagem para o México, com duas amigas, onde elas vão tentar apagar um e-mail enviado para um casinho (Robbie Amell) depois que a jovem sofre com alguns dias na fossa, com muito álcool envolvido, por conta do rapaz não retornar sua ligação após um encontro.

Mas descobrimos que Jared (Amell) sofreu um acidente no país e ficou incomunicável, assim Wesley (Pedrad) irá fazer tudo para recuperar o pesado e-mail com pérolas do tipo “por favor pare de colocar em suas fotos do instagram a hashtag #photography. Tudo no instagram é uma foto” até mesmo ofensas, com muitos emoji, sobre o membro do rapaz. E por mais que Desperados apele para o surreal e para o caos, faz tudo isso de uma forma muito divertida ao colocar Pedrad em situações completamente sem noção a todo tempo, e que dão o tom para o tipo de filme que quer passar.

E espectador se prepare temos toalhas sendo tiradas no meio de um restaurante, passeio com golfinhos excitados e com um péssimo efeito especial, e piadas de cunho sexual que envolvem protetor solar, mas que por mais piradas e sujas acabam por serem engraçadas e funcionarem na trama. E talvez seja tudo que isso que faz Desperados funcionar, e ser muito mais do que apenas uma comédia bobinha e que choca por chocar, o filme, tudo tem um contexto envolvido.

Desperados, no final, acaba ser muito mais que apenas amontoado de cenas gritantes feitas para rirmos, o texto vai fundo em sua trama sobre relacionamentos, sejam amorosos ou de amizade.

E Desperados entrega uma comédia das garotas como fazia tempo que não via. Ele não é tão sério e pensativo como Alguém Especial (2019) que também tinha Anna Camp no elenco, mas também não é tão surtado como A Noite É Delas (2017). É o meio termo, é uma mistura de diversos momentos divertidos com uma mensagem inspiradora e realmente conta uma boa história. Claro, muito do que vai acontecer com os personagens acaba por ser completamente óbvio, mas o roteiro, mesmo que previsível, consegue garantir uma surpresa aqui e ali, e claro boas risadas. O filme começa como uma gostosa comédia dessas sem compromisso, que leva o grupo de amigas para o tal do resort no México em busca do e-mail enviado, mas acaba indo a fundo nessa relação e como Wesley vê o mundo e se comporta.

Algumas coisas andam em círculo como a repetição da piada envolvendo uma mãe (Mo Gaffney) e uma criança (Toby Grey) e até mesmo, tudo que a jovem precisa passar para encontrar enfim os aparelhos de Jared (Amell) e deletar todas as palavras pesadas escritas, mas que mostram a verdadeira essência que Desperados quer passar como filme. O bom que o roteiro também dá uma trama para as amigas Brooke (Camp, num bom ano) e Kaylie (Sarah Burns) coisa que dá mais uma camada para a produção e faz com que o filme não seja uma coisa unidimensional, e as personagens coadjuvantes que estão lá apenas como as amigas da protagonista, elas desenvolvem seus arcos narrativos, seja sobre o fim de um relacionamento ou sobre maternidade.

E Desperados ainda retoma a boa e velha discussão que estamos de uma época para novos protagonistas, onde aqui temos Pedrad, uma atriz iraniana-americana e claro um protagonista masculino interpretado pelo ator Lamorne Morris, como Sean, um ex-casos da personagem que a ajuda na empreitada maluca. É a nova forma de contarmos histórias onde o filme se junta à Um Crime Para Dois (2020) ao termos velhas e batidas fórmulas contadas por outras perspectivas e novos rostos em Hollywood dando voz para novas pessoas.

No final, Desperados vem com uma bagagem imensa de outros filmes do gênero como A Viagem das Garotas (2017) e até mesmo Ibiza (2018) da própria Netflix, apela para um humor bastante surreal, mas ao mesmo tempo extremamente afiado em sua proposta e que talvez não seja para todo mundo. Desperados faz bem mais que apenas um filme de viagem de garotas e entrega um divertimento na medida certa.   

Nota:

Desperados está disponível na Netflix.