TIFF 21 | Querido Evan Hansen | Crítica: Adaptação da peça entrega uma montanha russa de emoções

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Querido Evan Hansen,

Se eu pudesse te falar uma coisa, diria que a adaptação da sua peça em filme acaba por ser um grande turbilhão de emoções, assim como, talvez, a própria história que você quer contar.

O filme de abertura do Festival de Toronto 2021, Querido Evan Hansen (Dear Evan Hansen, 2021) não é um filme fácil de processar. A produção da Universal Pictures lida com temas importantes (alerta de gatilho já aviso!) como depressão, suicídio, bullying e faz isso de uma forma musical. O que temos aqui é uma história sobre um garoto desajustado que se vê no meio de uma encruzilhada, depois que um evento, que a princípio parece ser inofensivo, mas que se mostra ter consequências perigosas, vira uma grande bolha de neve que envolve muito mais pessoas que apenas seus protagonistas: um presente em tela Evan (Ben Platt, que reprisa seu papel na Broadway) e um outro onipresente Connor (Colton Ryan que também participou da peça).

Querido Evan Hansen
Foto: Erika Doss/Univers – © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

E por isso, Querido Evan Hansen acaba por ter muitos altos e baixos, não só na sua história, mas também na sua própria produção e como se apresenta como um filme propriamente dito. É como se o longa tentasse repetir a sensação da peça da Broadway e obrigasse o espectador a focar apenas nos atores, forçando a quem a assiste a esquecer tudo o que está em volta. Mas aqui estamos em outra mídia, e para um filme, uma adaptação cinematográfica, isso pode ser um pouco mais complicado de fazer. Uma vez que você se acostuma com isso, talvez, Querido Evan Hansen engrene. Foi o que aconteceu comigo.

Depois que eu parei de reparar na caracterização de Platt que realmente destoa de boa parte dos outros personagens, mesmo que o ator esteja muito bem, nos cenários super simples e parecidos com uma série de TV aberta, e tudo mais, e foquei realmente nas atuações (que em grande parte realmente vale a pena) e nas cenas musicais (que são incríveis), foi que realmente consegui aproveitar o longa.

E realmente Querido Evan Hansen faz um filme que te puxa para o lado emocional muito mais do que realmente acertar em outras coisas mais técnicas, e isso se dá por essa escolha do diretor Stephen Chbosky em focar mais nos personagens do que as coisas ao seu redor. E como falamos, ter alguém como Platt no papel, e que conhece o personagem como ninguém, realmente fez a diferença. O ator consegue entregar todas as nuanças que Evan precisa passar em Querido Evan Hansen, só que agora como filme.

Afinal, em boa parte de Querido Evan Hansen, queremos torcer para ele, nos conectar com o personagem, e simpatizar com o garoto. Inclusive o filme tem nesses momentos, cito uma cena em que Platt e Ryan cantam juntos e cada um performa uma parte da música enquanto seus personagens cantam sobre seus problemas que é realmente um dos grandes destaques da adaptação. Mas realmente, na medida que a história do filme avança, e vemos que Evan se embola nas suas mentiras e o que antes começou com um mal entendido (a tal carta que ele escreve para si mesmo para usar na terapia mas acaba por ser confundida com uma carta de Connor antes de se matar), o filme realmente tem desconstruir toda aquela aura de “Vamos torcer para o garoto que sofreu bullying e se sentia invisível”.

Como filme, Querido Evan Hansen se assemelha muito a ver uma adaptação da Broadway só que dramatizada.  Isso fica claro na medida que realmente o filme engrena até sua primeira hora (onde temos a popularização de Evan que “hitta” nas redes sociais com um vídeo em homenagem para Connor, e já atolado em mentiras), onde claramente seria o intervalo da peça. Para depois, para sua hora final, vemos apenas as consequências que acabam por serem devastadoras. Não só para ele, mas para todo mundo envolvido. Afinal, essa mentira criada pelo personagem, com a ajuda do colega Jared (Nik Dodani, bem como um mean gay), acaba por fazer o jovem se aproximar de diversas pessoas, seja uma colega de classe na qual ele começa a confidenciar detalhes da sua vida, a ativista Alana (Amandla Stenberg, muito bem aqui), a irmã de Connor, que ele secretamente tinha uma quedinha, a jovem Zoe Murphy (Kaitlyn Dever, muito bem também e uma das promessas jovens de Hollywood), e dos pais dele Cynthia (Amy Adams, inspirada aqui e com cenas bem intensas) e Larry (Danny Pino).

Querido Evan Hansen
Foto: Erika Doss/Univers – © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

Com Alana, Evan vê a oportunidade de participar de uma atividade extracurricular e fazer parte de um grupo dentro da escola, coisa que ele nunca teve, e com os pais de Connor, Evan tem a chance fazer parte de uma família completa, afinal, ele mora com a mãe (Julianne Moore) e o pai o deixou quando criança. E para os Murphy, a presença de Evan em suas vidas, após o trágico evento que eles vivem, é uma chance de tentarem se aproximar do que eles imaginam ser a única amizade que o filho tinha em seus últimos momentos e tentarem compreender a decisão dele em cometer suicídio.

O mesmo vale para Zoe que não tinha uma relação muito boa com o irmão e que acaba por encontrar em Evan uma forma de conhecer mais sobre o que o irmão fazia, mesmo que Evan use seus sentimentos por ela para contar tudo isso. O mesmo vale para todo arco narrativo que envolve Evan com sua mãe, a enfermeira Heidei (Julianne Moore que aparece pouco, mas eleva a produção sem dúvidas) que precisa lidar com o filho e seus altos e baixos. Aqui, Moore trabalha com pouco, mas tem seus momentos com destaque para um solo incrível e ainda uma cena que ela divide com Adams e Pino que realmente é uma passagem muito marcante. 

Querido Evan Hansen
Foto: Erika Doss/Univers – © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

A cena em que Evan canta sobre seu relacionamento forjado com Connor na sala de jantar dos Murphy é muito muito bonita e todos os atores estão bem. Mas ao mesmo tempo, tudo é muito triste. E Querido Evan Hansen, com uma certa dificuldade navega por esses altos e baixos.

No final, Querido Evan Hansen deve dividir opiniões, afinal, quando entrega algumas passagens alto astral faz uma produção muito divertida e quando entrega momentos pesados acaba por ser muito triste na história que ele quer contar.  Mas não deixa de ser um musical tocante em sua proposta e realmente tem boas passagens. Um agrado, mesmo que agridose, para a legião de fãs da peça que podem ver Platt no papel de Evan.

Avaliação: 3 de 5.

Querido Evan Hansen chega no Brasil em Novembro.

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