De Pernas Pro Ar 3 | Crítica

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De maneira geral podemos dizer que De Pernas Pro Ar 3 (2019) deveria concluir a saga de Alice e a sua jornada de auto-descoberta sexual iniciada lá no primeiro filme, lançado em 2010, mas, nesse terceiro capítulo da franquia, fica claro que isso está longe de acontecer.

Aqui, De Pernas Pro Ar 3 acaba por fazer quase o oposto disso, mesmo que entregue uma produção honesta e divertida em alguns momentos.

De Pernas Pro Ar 3 – Crítica | Foto: Paris Filmes

Do primeiro De Pernas Pro Ar para cá, vimos a executiva do mercado erótico passar por poucas e boas, aprender a ser dona do próprio corpo, abrir um negócio multimilionário, criar seus os filhos, viajar o mundo, mas, e agora? O que vem por aí para Alice Segretto? E, o principal, o que De Pernas Pro Ar 3 pode oferecer de novo para o público?

Ingrid Guimarães entrega em De Pernas pro Ar 3, um filme bem episódio, como se fosse um especial de Natal que poderia passar na TV a qualquer momento e que está longe de ser uma conclusão, e faz, apenas, mais um capítulo, numa vasta história que parece que irá continuar e continuar, num ciclo infinito.

Do primeiro para o segundo filme, vimos que a vida de Alice seguiu em frente, e aqui, nesse terceiro, fica claro, que não necessariamente precisávamos de um novo filme para saber o que andava rolando na vida da executiva. Mas, já que estamos aqui, basta sentar na poltrona do cinema, pegar a pipoca e esticar as pernas.

Claro, é inegável o talento e timing cômico de Guimarães, que parece estar mais confortável do que nunca e que realmente pegou a essência da personagem, mas, ao assistir De Pernas Pro Ar 3 parece também, que falta alguma coisa, algum tipo de definição para a trama que peca por não ter uma identidade própria, tão presente e vista nos outros longas.

Esse terceiro filme parece que quer que o espectador fique acompanhando o dia-a-dia da personagem, como se fosse um reality show, e talvez, falte nele, um pouco de foco, onde De Pernas Pro Ar 3 ao tentar desconstruir a imagem workaholic de Alice, faz toda graça da personagem desaparecer e entrega um filme com poucos momentos inspirados.

Nessa terceira aventura, a história acompanha Alice numa encruzilhada que deve conversar com muitas mulheres de idade parecida e que claramente e puramente são o público alvo para o longa, sem sombra de dúvidas. De Pernas Pro Ar 3, se indaga a todo momento, em como Alice pode fazer para balancear sua vida profissional com a pessoal. Uma delas tem que se sobrepor à outra? Há chances de uma não anular a outra?

Assim, a produção nos entrega essas e outras perguntas, onde o longa, tenta causar um tipo de reflexão para o espectador, entre uma piada e outra de Guimarães, sempre ligada no 220 volts. As respostas vem aos poucos, mas será que são o bastante para essa história?

Em De Pernas Pro Ar 3, vemos Alice decidir que precisa dedicar um tempo maior com sua família, afinal, seus filhos, o adolescente Paulinho (Eduardo Mello) e jovem Clarinha (Duda Batista) cresceram e tem novos problemas, ele com o despertar sexual e ela a curiosidade de conhecer o mundo que a mãe vive. Vemos também a executiva, precisar lidar com carreira do marido João (Bruno Garcia) queparece tomar novos rumos, o que leva o filme para tramas que são pouco desenvolvidas, e deixa claro que bem, família é família, não é mesmo?

Mas, o texto do trio Marcelo Saback, Rene Belmonte e Ingrid Guimarães parece ter um certo trabalho para conseguir conciliar todos esses aspectos dessa nova Alice, onde, também, ao mesmo tempo, luta com uma preocupação enorme para mostrar e fazer entender que o mercado de trabalho não andou muito fácil para as mulheres, ainda mais, num ramo super específico e diferente em que Alice atua.

De Pernas Pro Ar 3 – Crítica | Foto: Paris Filmes

A chegada de uma concorrente, a jovem Leona (Samya Pascotto, uma boa escalação, muito bem escolhida para trabalhar com Guimarães) com um produto que junta o moderno e o tecnológico, De Pernas Pro Ar 3 ganha arcos que devem falar bem com a mulher dos anos 2019, mesmo que para os olhos de fora desse público, tudo soe um pouco exagerado demais, novelesco e forçado.

As passagens que os personagens vão para Paris, concluindo o gancho do segundo filme, algumas tomadas, ângulos e opções da diretora Julia Rezende, mostram a importância de um olhar feminino para uma obra dessas e que fizeram total diferença na forma como consumimos o longa, mesmo sabendo que ele não é para nós.

Algumas decisões estéticas da produção, ajudam a compensar um pouco certas confusões de idéias e de rumos narrativos que De Pernas Pro Ar 3 apresenta. No final, De Pernas Pro Ar 3, parece ter a idéia mais ousada e provocante entre os três filmes da franquia, mas, acaba, por jogar tão seguro em suas resoluções que perde a oportunidade de completar a trilogia com um estouro.

Aqui, temos, apenas, um filme mediano que parece ficar com as pernas presas em si mesmo, o que realmente é uma pena, afinal, a combinação Ingrid Guimarães, gravações em Paris e Cauã Reymond, pareciam ser uma fórmula infalível para o sucesso.

Nota:

De Pernas Pro Ar 3 chega em 11 de abril nos cinemas.

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