Cinderela | Crítica: Camila Cabello e companhia fazem o filme parecer um episódio especial de Glee

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“If it’s a million to one I’m gonna be that one …” canta em plenos pulmões a cantora latina Camila Cabello em um de seus solos em Cinderela (2021), a nova adaptação do conto clássico da jovem que com a ajuda da fada madrinha e de seus amigos animais vai para o baile e encontra o amor verdadeiro de um Príncipe Encantado. 

A nova adaptação da Sony Pictures que chega no Prime Vídeo agora no dia 3 poderia ser mais uma entre as milhões de versões do conto clássico que já tivemos ao longo dos anos, mas aqui Cinderela tem sim um quê a mais, um toque moderno e por mais que seu material de divulgação possa enganar, o filme agarra essa sua única chance e faz sim um filme que diverte.

Claro, não vai com a cabeça que o longa será um daqueles super sérios que será indicado para Oscar ou que redefinirá a história da gata borralheira. Em Cinderela é como se o grupo de teatro de uma escola rica tivesse que apresentar o musical no final de ano. É como se Cinderela fosse um episódio especial da série musical Glee comandado pelo Sr. Schue ou até mesmo em High School Musical: The Musical The Series se formos falar de uma série um pouco mais moderna da Era do TikTok.

Aqui, o que temos, são versões de músicas conhecidas cantadas pelos personagens que conhecemos da história clássica enquanto a trama que já conhecemos também se desenvolve, onde Cabello encara seu primeiro papel como protagonista depois de alcançar a fama no grupo musical Fifth Harmony e consegue tirar de letra ser a protagonista.

O que diferencia o novo Cinderela dos outros é que o roteiro de Kay Cannon (e que também dirige o longa) tem um humor bem específico. É como se tivéssemos dentro do humorístico Saturday Night Live (onde por momentos eu me peguei achando que alguém iria falar: “Live from New York…. it’s Saturday Night!” e o James Cordon (brrr!) iria aparecer. Bem, uma, dessas duas coisas acontecem em Cinderela. Mas pera que ainda não deu 00h e não vou ser obrigado a correr com esse texto e encerrar por aqui.

O texto de Cannon abusa de piadocas com o que acontece na história clássica que se desenrola, e também das outras versões do conto, e entrega também piscadelas interessantes para a nossa sociedade (Uma mulher não pode ter a mesma profissão que um homem e ganhar igual?) para contar essa história mais uma vez. E para compensar que esse papel seria o primeiro de Cabello, Cannon cercou a cantora, agora atriz, com bons outros atores onde boa parte deles – principalmente Idina Menzel como Vivian, a Madrasta e um dos maiores destaques do filme – se saem bem durante seus números musicais. 

Mas nem tudo funciona como num passe de mágica da Fada Madrinha para Cinderela, já aviso também. O longa parece ser um que não sabe muito o que quer ser logo de cara. No começo parece que o longa se leva sério demais em realmente contar uma história clássica de Cinderela. Mas, talvez, as saídas de Cannon para modernizar a história e diferenciar de outras versões, seja o Fado Madrinho de Billy Porter (que aparece pouco, mas narra o filme), ou até mesmo aumentar a família do Príncipe Encantado (Nicholas Galitzine) e dar alguns novos conflitos para o personagem, e uma irmã, a Princesa Gwen (Tallulah Greive) que é muito mais apta para governar o reino do que ele, ou até mesmo uma história de origem e um passado sofrido para a Madastra de Menzel que dão a diferença.

Afinal, na medida que Cinderela e o Príncipe, aqui chamado Robert, se conhecem no mercado da cidade com ele disfarçado em um tapete mágico (ops filme errado!), o filme ganha outros ares, um mais jocoso e completamente mais leve do que tínhamos nos primeiros momentos. Um dos acertos que Canon usa em Cinderela por exemplo é com os grupos seja dos anúncios reais que entregam as mensagens no estilo Hamilton ou ainda o grupo que atua no palácio que parece ter vindo de um grande coral.

Assim, Cannon começa a moldar uma historia de empoderamento que nos é entregue em um pacote colorido, cheio de cor e musicalmente empolgante. Os destaques ficam com a música citada lá no começo Million to One… cantada por Cabello, Material Girl cantada por Menzel, Charlotte Spencer (como Drizella) e Maddie Baillio (como Anastasia) e Somebody To Love cantada por Nicholas Galitzine que realmente se mostra um bom ator para filmes teen depois de roubar as cenas em Jovens Bruxas – Nova Irmandade.

E para quase 2 horas, Cannon trabalha com a história onde todos os personagens tem algum tipo de conflito, mesmo que por isso Cinderela se extendido um pouco mais do que deveria. Mas quando você tem Pierce Brosnan como o Rei Rowan e Minnie Driver como a Rainha Beatrice no elenco, você tem utilizar eles. Mas tem mesmo? Infelizmente eu teria transformado essas cenas dos atores em abóbora e canetado elas na ilha de edição. E não só deles, as dos ratinhos que viram os guias da carruagem também, pois no momento que James Corden, James Acaster e Romesh Ranganathan abrem suas boca em suas formas humanas, é como o soar da meia-noite e toda a mágica acaba.

E talvez por isso que volto a falar que Cinderela soa às vezes como um experimento, um teste, uma peça de teatro de colégio, por isso a lembrança de Glee, afinal, parece que tudo foi gravado foi colocado no corte final, onde até mesmo a produção que chega a mais contida em diversos aspectos, seja figurinos, locações e claro, efeitos especiais, parece que acabou a verba em algum momento.

Mas no final, o que importa é que realmente Canon consegue trabalhar com tudo isso e da mesma forma que Billy Porter transforma os farrapos de Cabello em um belo vestido, temos sim, um filme interessante. As chances disso ter acontecido, para mim, eram 1 em milhão, assim, como da história de uma garota ir para um baile em uma abóbora mágica usando um sapatinho de cristal. Às vezes temos que ir com nossas expectativas baixas.

Avaliação: 2 de 5.

Cinderela chega no Prime Video em 3 de setembro.

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