Casa Gucci | Crítica: Uma chamativa e exagerada história de assassinato com matadoras atuações

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“Ética não é exatamente meu forte, mas eu sou justa”, afirma a personagem de Lady Gaga em uma das cenas chaves de Casa Gucci (House of Gucci, 2021).

Muito se fala da cantora pop que agora faz carreira em Hollywood, e assim como Patrizia bate sua xícara no meio dos alpes durante a conversa com uma amiga do seu marido, eu vou ser bem justo com ela e com o filme de maneira geral. 

Lady Gaga é a alma do longa, sem tirar nem pôr. Gaga é que o une com um laço verde, vermelho e dourado, todos esses grandes nomes que o veterano diretor Ridley Scott chamou para contar essa história sobre amor, cobiça e assassinato. E Scott apenas transporta para a tela as excentricidades, os trejeitos gritantes e italianos, a afetação que essa história é, conta e a forma como esses personagens se comportam.

Lady Gaga como Patrizia Reggiani e Adam Driver como Maurizio Gucci
Foto:  Fabio Lovino| © 2021 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc. All Rights Reserved

Os Gucci eram sinônimo de riqueza e opulência e estávamos nos anos 70 e 80, onde o que mais tínhamos era isso e aos montes. Eram os grandes cabelos, os figurinos de chamar a atenção, os casacos de peles, era a Era da Ostentação, onde em Casa Gucci, Scott nos apresenta para a tela de uma forma muito interessante. É como se no longa o diretor quase fizesse uma sátira desse mundo tão brilhante e convidativo, e que chamou a atenção da jovem filha de um dono de uma frota de caminhões Patrizia Reggiani (Gaga) uma moça inteligente e muito ambiciosa que um dia conheceu o jovem Maurizio Gucci (Adam Driver, numa caracterização perfeita) e eles viveram um conto de fadas. E assim, como a maior concorrente de Gaga na temporada de premiações, a Princesa Diana de Kristen Stewart em Spencer, fica claro, que Casa Gucci mostra também o pós contos de fadas, o que veio depois do “Eu aceito!” e do idealizado felizes para sempre que nunca vem.

Casa Gucci conta essa história durante quase 30 anos, e mostra os eventos da vida dos Gucci com a chegada dessa jovem que veio para movimentar tanto a dinâmica familiar, quanto os negócios da família. O que temos aqui é um filme que é para o espectador ir assistir pela história de crime real polêmica (sim, Maurizio Gucci foi assassinado por um matador de aluguel na escadaria de seu escritório em Milão nos anos 90), fique pelas atuações carismáticas e os figurinos exuberantes. Todos os atores estão com uma caracterização perfeita, desde de seus figurinos, suas maquiagens, e entregam um trabalho de expressão corporal formidável, onde fica nítido que tudo foi muito bem estudado e trabalhado.

E para mim, que leu o livro da autora Sara Gay Forden na qual o filme se baseia, o que faltou? Os roteiristas Becky Johnston e Roberto Bentivegna precisavam ter dado uma enxugada no material apresentado e Scott uma boa sentada com seu editor e terem visto formas de cortarem uma cena aqui e ali. São 2h40 de filme e mesmo que particularmente para mim passaram numa boa, entendo que o mesmo não possa ser aplicado para todo mundo. Mas talvez isso se dê por eu já saber o que realmente aconteceria, desde do começo com o casal apaixonado (a cena dos dois no escritório define muito bem o tom do filme), as desavenças de Maurizio com o pai, Rodolfo (Jeremy Irons, impecável) um ator que precisou assumir os negócios da família e manter o legado criado pelo pai dele, depois com o tio Aldo (Al Pacino, realmente muito bem), com o primo Paolo (Jared Leto, numa caracterização tão boa que nem é possível saber que é ele) e depois com o divórcio tumultuado entre Patrizia e Maurizio, a venda da empresa para uma corporação, e enfim o assassinato.

Elenco de Casa Gucci reunido em cena
Foto: Courtesy of Metro Goldwyn Mayer Pictures Inc.

É muita história, muitas figuras que passam e vão, são muitas datas, e tudo mais que o filme apresenta, mas por outro lado, essas gordurinhas que o filme tem acabam por servir para ajudar o espectador a montar esse quebra cabeça e mostrar um pouco das motivações que todos os personagens tinham (cada um olhava para o seu próprio umbigo tapado com um cinto com os dois G gigante) e claro para entendermos um pouco o motivo que levou Patrizia a tomar a decisão de mandar matar o marido.

E para isso a presença de Gaga é fundamental. Combinar a explosiva personalidade de Patrizia com o serenidade e calma de Maurizio, fez com que Gaga e Driver trabalhassem bem suas atuações para se completarem. Toda vez que a atriz aparece, ela domina a tela, é como se Gaga em seu olhar, conseguisse transmitir que Patrizia sempre estava por arquitetar alguma coisa, onde as rodinhas do cérebro parecem que nunca paravam de trabalhar. Seja no jeito que ela fala com o tio do marido (e que foi preso por sonegação fiscal), com o primo bonachão, com o marido quando eles descobrem sobre as falsificações, e principalmente quando ela conversa com a tal vidente picareta de Salma Hayek, numa rápida participação.

Tudo isso fica ainda mais surreal quando notamos que essa é uma história que realmente aconteceu, são pessoas que existiram de verdade, e algumas conversas realmente aconteceram, só que aqui ganham ares mais teatrais por se tratar de um produto cinematográfico, e não um documentário. E tudo isso, apenas mostra que Casa Gucci é como se o diretor Ryan Murphy dirigisse um episódio da série Succession, Dynasty (qualquer uma das versões) ou de Família Sopramos, é opulência, é carão para tela e frases de efeitos, como um bom novelão. Todas as excentricidades dessa história que beira o surreal estão ali, amplificadas em tela, e que deixam Casa Gucci com um ar mais afetado do que deveria. E para mim isso é o que fez a diferença no filme. Father, Son e House of Gucci desde de sempre.

No final, chego a conclusão que recebi aquilo que o trailer me vendeu: um filme divertido, chamativo e com matadoras atuações de Gaga, Driver e Leto. Nada mais que isso, feito sob medida, igual uma roupa Gucci.

Avaliação: 3.5 de 5.

Casa Gucci chega nos cinemas em 25 de novembro.

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