quarta-feira, 11 dezembro, 2024
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Ainda Estou Aqui | Crítica: No contido, Fernanda Torres entrega atuação gigante

Será que estamos enaltecendo Ainda Estou Aqui (2024) por sermos brasileiros? Não, de maneira nenhuma não estamos. O hype, o burburinho, e a expectativa, em cima de Ainda Estou Aqui é real, sim, e deve ser maior, afinal, o filme é excelente e também por que o filme é brasileiro. 

Quando começou a se falar mais sobre o filme, lá pela metade do ano, era compreensível, e fácil pensar nisso, afinal, há anos que um filme não era tão celebrado tanto no país, quanto fora dele. Claro, tivemos outros bons longas que movimentaram as discussões em outros anos, cercados de debates on-line, presença também em festivais, mas acho que nenhum tem ido, e que ainda, vai tão longe, igual tem sido com a trajetória Ainda Estou Aqui. 

E devemos celebrar sim, e falar sim, sobre Ainda Estou Aqui. Sim, se você vive numa caverna existe um filme que tem passado feito um furacão nos festivais internacionais chamado Ainda Estou Aqui e que é estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello que é baseado no livro do autor Marcelo Rubens Paiva de mesmo nome.

Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, e com sessões esgotadas na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em outubro, o longa é realmente uma experiência avassaladora e emocional num trabalho realmente maravilhoso do diretor Walter Salles que conduz essa história com uma delicadeza sem tamanho.

E o maior destaque aqui fica o trabalho formidável de como todos os envolvidos resolveram contar essa história e como contar essa história. Do roteiro da dupla Murilo Hauser e Heitor Lorega, da atuação de Torres, da forma como somos puxados para dentro da narrativa e passamos a viver e experienciar tudo que essa família viveu, e principalmente perdeu. A narrativa vista aqui serve também, de certa forma, como um reflexo de um dos momentos mais sombrios e pesados da história do Brasil moderno: os anos da ditadura.

E é por conta da forma como a trama desloca, do canto, para o centro da narrativa a figura de Eunice Paiva interpretada brilhantemente por Fernanda Torres é incrível de se assistir. Afinal, do começo mais idílico, novelesco, e com uma forte fotografia que remete os anos 70, em que vemos Eunice realmente como uma típica dona de casa carioca, e produtor e figura daquela época, as sombras do marido Rubens Paiva (Melo, também num bom papel) para depois ver ele ser levado, num dia, como outro qualquer por agentes da ditadura e depois precisar assumir as rédeas da família e dos 5 filhos quando ela vê que o marido não vai voltar mais.

E no meio de incertezas, ela continua ali, mesmo de mãos amarradas, sem respostas, apenas com questionamentos, e que mais para frente viriam ser meias certezas, mas sempre com talvez uma esperança.   

Conhecida por seus papéis mais cômicos, Torres está fenomenal e entrega uma atuação mais contida, sem deixar de ser extremamente poderosa. O espectador é conduzido com a Eunice de Torres por essa história no meio da tristeza, das incertezas e da dor. Em uma das cenas mais impactantes que o longa tem, vemos Eunice buscando a filha mais velha, Vera (Valentina Herszage), do aeroporto, depois dos acontecimentos, que a jovem não sabia, e é perguntada se as coisas estavam bem, e Eunice, dirigindo, responde com um meio sorriso, “Está tudo bem, minha filha!”, mas as coisas claro que estavam para lá de nada bem. 

Da ida de Eunice, e da filha Eliana (Luiza Kozovski) de apenas 15 anos, para dar depoimento numa prisão da ditadura e ficarem dias por lá isoladas, para a forma como ela vai descobrindo o envolvimento do marido com uma rede de apoio de pessoas contra a ditadura e a forma como ela tem que se virar para manter a casa e a finanças, Ainda Estou Aqui foca na família em vez do que aconteceu e no contexto que aconteceu. 

É um filme sobre uma realidade dura, mas que acerta em ser contada de uma forma extremamente respeitosa com todos os envolvidos e ainda de nos entregar de presente, a participação de Fernanda Montenegro como Eunice já mais velha, debilitada pela idade, e com Alzheimer, depois de ter se reinventado e tocado sua vida, sem nunca esquecer dos anos que viveu no casarão a beira mar com o marido.

E ter Montenegro, numa atuação, ainda mais continua que da filha, e que é feita apenas pelo olhar, apenas coroa esse novo projeto de Salles depois de anos que Central do Brasil arrematou o Brasil e o mundo. No final, Ainda Estou Aqui não só faz um filme nacional incrível, como também um dos melhores do ano e ponto final. 

Nota:

Ainda Estou Aqui chega em 7 de novembro nos cinemas.






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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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