A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais | Crítica: Destaque fica para a busca do que é diferente em cada uma das versões

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O Caso Richthofen foi um dos grandes casos policiais que marcaram a História criminal brasileira, sem nenhuma dúvida. E um que sempre volta para os holofotes quando um dos envolvidos retorna para a mídia. Enquanto lá nos EUA, a popularização desses projetos intitulados “true crime” sempre foram mais ou menos presentes na programação, aqui no Brasil, a onda é um pouco mais recente e sempre influenciada por casos americanos que chamaram a atenção como A Máfia dos Tigres, e os casos de Lorena Bobbitt e O.J. Simpson para citar alguns.

E aqui com A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais (2021), os roteiristas Ilana Casoy e Raphael Montes dramatizam, em duas versões diferentes, em dois filmes diferentes, o polêmico caso da jovem Suzane von Richthofen que foi acusada (e condenada) juntamente com o namorado Daniel e o cunhado Cristian pela morte de Manfred e Marísia von Richthofen no final de Outubro de 2002.

A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais
Foto: Stella Carvalho/Galeria Distribuidora/Amazon

No começo tratado como um mais um crime que atingiu uma família de classe alta em São Paulo, o caso passou a ser uma grande investigação criminal que teve apelo nacional por conta dos detalhes que vieram à tona durante a investigação e também depois com o julgamento anos depois. Os três foram condenados pelo homicídio do casal e aqui o combo A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais foi pensado para contar a versão, baseada nos depoimentos dos réus no julgamento em junho de 2006, de cada um. Mas é isso, o que os filmes mostram são os dois principais acusados contarem suas histórias. A parte mais técnica e do trabalho de investigação não é mostrada aqui.

A ideia inicial da produtora Galeria Distribuidora era fazer um lançamento nos cinemas, onde o público teria acesso aos dois filmes. Com a pandemia, isso ficou cada vez mais difícil, e os longas foram para o streaming, onde particularmente acho que é o melhor lugar para eles. O Prime Video Brasil apostou na ideia e agora lança as histórias no seu catálogo para todo o mundo. E aqui, para os fãs do gênero, realmente, A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais fazem uma aposta segura num gênero que ganhou força, chama atenção, e tem nomes conhecidos do público. E com o streaming tem chances de se sair melhor do que nos cinemas.

Em termos de produção, o combo não é nada de espectacular cinematograficamente falando. É uma produção extremamente simples, com jeitão de novela, e realmente parece que foi feito para TV, e talvez por isso a ida para o streaming tenha sido a melhor opção. O que realmente chama atenção é a forma como a história é contada.

Afinal, tanto A Menina Que Matou os Pais (o longa que é focado no depoimento de Daniel) e O Menino Que Matou Meus Pais (o longa que é focado no depoimento de Suzane) são filmes que contam uma história com começo, meio e fim. E podem ser vistos sem a real necessidade de um depender do outro. Claro, os filmes se completam narrativamente falando, mas o espectador pode sim, optar por ver apenas um deles. São 1h20 aproximadamente cada um que temos os acontecimentos que levaram o casal a bolar a morte dos pais de Suzane, aqui interpretados por Leonardo Medeiros como Manfred (que entrega um tom mais ameaçador e autoritário em um dos filmes, e em outro é representado como um pai amoroso e preocupado) e Vera Zimmermann como Marisia (que também se destaca mais em um deles como uma figura que realmente era contra o namoro).

A grande sacada então fica nisso, afinal, um dos filmes Suzane (Carla Diaz muito bem aqui) pinta Daniel (Leonardo Bittencourt melhor quando seu personagem não é o foco) como o verdadeiro culpado que a influenciou durante anos contra os pais, e em outro, o que temos é o contrário, um garoto simples, de uma família humilde (aqui temos os atores Augusto Madeira e Debora Duboc como os pais) que foi influenciado pela namorada cheia de problemas emocionais e de uma família completamente desestruturada. Tanto Diaz quando Bittencourt conseguem mostrar atuações em diversos momentos bem intensas, e como temos dois filmes onde seus personagens são bem diferentes um dos outros, a dupla acaba por entregar passagens interessantes e que realmente ajudam a nos contar essa história pelo olhar de seus personagens. Independente de qual lado a história pende em determinada versão.

Os atores estão bem dentro das limitações que o longa entrega, diversas cenas soam bastante naturais e a dupla parece que realmente entendeu a essência de ambos, e em diferentes momentos. Claro, Diaz se sobressai completamente, é muito mais veterana que seus colegas jovens, e acaba por entregar um trabalho muito interessante em ambas as versões. Já Bittencourt fica um pouco mais apagado, como falamos, quando a versão de Daniel é o grande destaque. Talvez pelo motivo de que o depoimento de Suzanne seja mais cheio de detalhes e mostre mais sobre a forma como a jovem se sentia do que o de Daniel que acaba por mostrar mais sobre o caso em si (inclusive com a cena do assassinato em si) e realmente mostre mais sobre o que levou o casal para o fatídico dia. 

A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais
Foto: Stella Carvalho/Galeria Distribuidora/Amazon

O olhar do diretor Mauricio Eça para contar essa história foi planejado para entregar o que os personagens dizem e deixar para o espectador a montar o quebra cabeça sozinho, afinal, ao mudar de versão, temos cenas que não são vistas em uma delas, passagens e falas que são ditas que são completamente diferentes de um filme para o outro. Em algumas passagens, alguns acontecimentos são ditos com uma total certeza que realmente foram assim que aconteceram (como por exemplo o fato que Manfred tinha casos extraconjugais) já em outros são o oposto e ficam só em falas, mesmo que todos são baseados nos depoimentos da dupla na frente do Juiz. Eça cria esse mosaico com um apelo visual gigante (temos cenas, por exemplo, as da praia ou na balada que realmente são bem bonitas) e que chega a chamar atenção, afinal, ao assistir um filme em seguida do outro, fica mais fresco na memória identificar quais as cenas se complementam, e quais estão ali em outra visão.

No final, o espectador tem um pouco do quadro geral, de tudo que aconteceu, onde os filmes deixam para quem assiste escolher um lado. É preciso assistir os dois filmes? É uma coisa que eu particularmente recomendo, faz parte da experiência, e como os longas estão no streaming, eles estão ali, um clique de distância, e sem pressa de serem assistidos. Temos uma ordem certa? Não, não temos, como falamos, os dois são filmes inteiros, onde um completa, e afirma, a existência do outro. Vai do espectador decidir por qual ele começa, e qual versão é a sua versão preferida, se é que no meio dessa tenebrosa história isso seja possível ter algum tipo de lado, ou simpatia.

O que sabemos que independente do que foi escolhido, o fato é que ambos foram condenados e presos pelos brutais crimes aconteceram. Afinal, mesmo que em A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais tenhamos visões, e a composição de uma linha do tempo dos eventos que levaram o trio para aquele dia de outubro, diferentes e que são mostrados em suas formas polarizadas, nada muda o fato que hoje em dia, em pleno 2021, quando os filmes são lançados, temos três pessoas presas, duas mortes, e a vida de outras mudadas para sempre.  

A Menina Que Matou os Pais/O Menino Que Matou Meus Pais chega em 24 de setembro no Prime Video.

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