A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas | Crítica: O apocalipse nunca foi tão divertido e colorido

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Famílias disfuncionais quase sempre foram o centro, e tiveram um certo destaque em produções para o cinema e para a TV, principalmente em animações, e com A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (The Mitchells vs The Machine, 2021) não poderia ser diferente. Depois que a Família Pêra salvou o mundo, lá em 2004 em Os Incríveis, fazia tempo que eu não via uma outra família chegar em Hollywood que fosse tão carismática assim em tela como Os Mitchells que aqui nos entregam uma sensacional animação enquanto vemos eles passarem por tantas aventuras e viver as mais diversas peripécias para combaterem uma ameaça poderosa que estava pronta para causar o apocalipse.

E em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas o fim do mundo nunca foi divertido e colorido, onde realmente o que temos aqui é um trabalho impressionante, e não só faz uma boa história, mas também nos apresenta uma animação com uma excelente qualidade técnica e visual. Dos mesmos criadores da animação vencedora do Oscar em 2019 Homem-Aranha no Aranhaverso, a dupla Phil Lord e Chris Miller, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas acerta ao entregar um próximo passo tanto na carreira da dupla, quando da própria evolução da animação em si, num filme engraçado e marcado por personagens carismáticos. 

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas – Crítica
Foto: SPAI/Netflix

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas faz um longa recheado de pequenos momentos incríveis e apaixonantes que são tão gostosos de se assistir, e que vão desde de passagens que acertam tanto no tom cômico, quantos nos momentos um pouco mais dramáticos, onde o roteiro de Michael Rianda e Jeff Rowe (ambos co-dirigem o filme) acaba também por acertar em tudo que se propõe e faz isso de uma forma muito interessante para contar a história de como a Família Mitchell precisou se unir para bem salvar o mundo da revolta das máquinas e de uma assistente virtual do mal (voz da vencedora do Oscar, a atriz Olivia Colman no original).

Mas isso é só a superfície, um resumo do resumo, sobre o que é essa animação. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas faz muito mais do que isso, faz uma história sobre abraçarmos nossas diferenças e que ao aceitarmos elas, e trabalhamos juntos, as coisas podem funcionar, e por que não também nos ajudar a salvar o mundo de robôs transformados em criaturas do mal prontos para dominar nos prender em cubículos com acesso à internet?

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas trabalha em duas frentes, como uma boa animação para os novos tempos. Aqui, temos um filme que conta uma história cheia de cor, que salta aos olhos e que nos faz focar em toda a textura, como se fosse uma pintura feita em papel e que é transportada para tela, durante o filme todo. E graças a todo esse trabalho de composição visual, tanto dos personagens, quanto de locações, que definitivamente essa animação deve agradar, e muito, as crianças. E claro, a inclusão na trama de todas aquelas firulas como os filtros no instagram, os memes, os virais de internet, e temos emojis e outras parafernálias que viraram rotina na vida digital moderna. A outra frente, é que o roteiro de Rianda e Rowe também trabalha uma mensagem para os mais adultos sobre a influência da tecnologia e das questões de privacidade muito interessantes e que são pinceladas quando vemos a grande vilã de inteligência artificial Pal justificar suas ações para seu ex-dono, o bilionário da tecnologia, e criador dos robôs que se tornam do mal, Mark Bowman (voz de Eric André no original).

E é ao unir tudo isso, e também ao conseguir trabalhar os arcos individuais de cada um dos membros da família Mitchell, que A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas se destaca como uma boa e verdadeira animação para toda a família. Ao focar na história da jovem descolada e cheia de talento Kate (voz de Abbi Jacobson no original), sua ida para a faculdade de cinema, e a busca por encontrar seu grupo de pessoas (e uma garota!), e trabalhar todos conflitos que ela tem com seu pai Rick (voz de Danny McBride no original) que não entende seus novos gostos e como ela se sente infeliz, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas consegue criar esse cenário em que os dois, e ainda a mãe Linda (voz de Maya Rudolph no original que aqui está ótima) e ainda o outro filho caçula viciado em dinossauros, o jovem Aaron (voz de Michael Rianda no original) precisam olhar para suas diferenças e bolar um plano para sobreviverem a dominação mundial.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas – Crítica
Foto: SPAI/Netflix

E juntos com a mistura de porco, com cachorro, ou seria um grande pão?, Doug, o Poug, os Mitchells estão prontos, ou quase isso. Acho que o mais bacana de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é acompanhar essa família na sua aventura pela estrada à caminho da California para levar Katie para a faculdade, enquanto eles vivem normalmente e não precisam enfrentar robôs assassinos e uma assistente virtual maligna. Claro, os momentos finais, cheio de lutas e acrobacias são muito divertidos e cheio de passagens engraçadinhas e espirituosas, mas para mim, a verdadeira essência de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas está nos momentos genuinamente reais que eles vivem até descobrirem o que, e quem, quer dominar o mundo. Toda a parte que eles cobrem o carro com uma faixa que imita o asfalto para não serem rastreados pelos robôs do mal, ou até mesmo, a passagem que eles precisam invadir o shopping e encontrar uma loja Pal (a grande empresa de tecnologia responsável pela criação dos robôs que se tornam do mal) são para mim o ponto ápice do filme. Pura diversão. 

E com uma história, que se pararmos para pensar não é das mais robustas, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas consegue entregar uma sólida e agradável comédia animada que se garante e muito em conquistar seu público por contar com esses personagens, ora desengonçados, ora apaixonantes para uma história tão universalmente incrível que só deixa essa animação ficar cada vez maior.

No final, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é mais um sopro de originalidade no meio de uma indústria marcada pela dominação de uma só empresa, onde a Sony Animation se firma novamente como um local para contar boas histórias e conseguem se destacar na medida que são lançadas ao longo dos anos. Com A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, temos mais um acerto fenomenal da dupla Phill Lord e Chris Miller, onde pelas mãos de Michael Rianda e Jeff Rowe, e também da Netflix (que comprou o filme depois que o planejamento para os cinemas foi prejudicado pela pandemia), conseguimos ver a luz do dia. Para a família Mitchell, um obrigado por salvarem o mundo e claro por me deixarem com a música Live Your Life (T.I. featuring Rihanna) na cabeça por dias. 

Avaliação: 4 de 5.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas chega na Netflix em 30 de abril.

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