A Casa Sombria | Crítica: Rebecca Hall entrega um trabalho formidável em um suspense cheio de simbolismos

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A Casa Sombria (The Nighthouse, 2021) foi um dos grandes destaques do Festival de Sundance em 2020, mas como boa parte dos filmes, foi afetado pela pandemia. E agora, finalmente, chega aos cinemas mais de 1 ano depois de agradar o público americano no evento cinéfilo que é focado em filme indie.

Com uma produção relativamente pequena, como de praxe para os filmes do gênero, A Casa Sombria acaba por ser basicamente um filme onde, basicamente, temos uma única locação e um trabalho de atuação de uma só pessoa. E para segurar as pontas, o longa precisa de alguém de calibre. E isso A Casa Sombria consegue tirar de letra, afinal, a produção foi comprada pela Searchlight Pictures se destaca pela presença da atriz Rebecca Hall que aqui entrega um trabalho formidável e que realmente alça o filme para um nível muito maior do que ele acaba por ser.

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A Casa Sombria
Foto: Searchlight Pictures

Afinal, ao vermos essa viúva em constante batalha para superar seu luto, A Casa Sombria acaba por entregar um suspense cheio de simbolismos e um quebra cabeça um pouco complicado de se montar e que depende muito da forma, e da intensidade de como nós, os espectadores estamos engajados com o filme, para tudo dar certo e funcionar para quem assiste. A Casa Sombria não é um filme que vai pegar na sua mão e te explicar tudo, muita coisa cabe a nós entender o que o diretor David Bruckner quis mostrar em tela.

No filme, de uma forma bem acertada, Bruckner nos joga para dentro desse lugar onde o diretor trabalha com o jogo de sombras, com reflexos e como a dualidade, seja de cenários ou de personagens, para contar essa história de suspense, amor, luto e obsessão. Aqui, A Casa Sombria não entrega um filme de terror clássico e propriamente dito, e sim, um que oscila mais suspense e um tom mais psicológico e que levanta diversas questões ao longo do filme que devem deixar os espectadores com uma pulga atrás da orelha sobre o que realmente acontece com Beth (Hall, ótima), uma professora, que vê sua vida mudar completamente depois que seu marido Owen (Evan Jonigkeit) comete suicídio. Assim, no filme vemos que ela entra numa espiral de luto para tentar se agarrar ao que sobrou dele: suas memórias.

Na medida que Beth tenta honrar a morte do marido e continuar sua vida, uma mórbida curiosidade sobre algumas questões que ela se depara ao arrumar as coisas deles a leva para uma desenfreada busca por respostas, já que Owen não parecia ser quem ele aparentava ser. O que será que o falecido escondia? E o que as pistas que Beth acumula ao longo do filme querem dizer? Ou seria tudo fruto da imaginação da cabeça frágil e ainda choque da personagem?

 O texto da dupla Ben Collins e Luke Piotrowski para A Casa Sombria trabalha com essas questões, e se apoia exclusivamente em Hall que desaba na nossa frente com uma atuação super precisa e extremamente humana. Como um trabalho de desenvolvimento de personagem e de apresentar e mostrar as dores que Beth sente, Hall entrega aqui o melhor papel de sua carreira. E para isso, A Casa Sombria nos entrega um longa com uma sensação completamente claustrofóbica de que alguma coisa errada acontece com a personagem de Hall, e que alguém parece a vigiar. É como se Beth vivesse dentro da trama de O Homem Invisível (2020), afinal, ela ouve vozes, ouve passos em cômodos que estão vazios, e sempre alguma coisa parece fora de lugar.

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A Casa Sombria
Foto: Searchlight Pictures

Particularmente acho que A Casa Sombria consegue trabalhar seus conceitos de uma forma que nos instiga a saber o que realmente acontece aqui, mesmo que a resolução acabe por soar um pouco menos didática do que eu gostaria. É tudo muito trabalhado no conceito e na subjetividade do que qualquer outra coisa, então não espere respostas fáceis aqui pois o filme não vai te entregar. A Casa Sombria faz um suspense que se apoia na sua ambientação fechada, em vozes, vultos, e em Hall tentando descobrir o que a cerca e os detalhes que levaram à morte do seu marido. Na medida que a trama avança, e descobrimos ao longo do filme, arquivos secretos em computadores, livros místicos, estátuas estranhas e a planta de uma casa invertida que deixam a história apresentada aqui ser uma que você não sabe para onde ela pode ir, afinal, tudo que nós e Beth, sabíamos sobre Owen é deixado de lado e uma nova faceta não muito amigável é apresentada na nossa frente.

Beth continua a afirmar para os outros, para os colegas de trabalho e para si mesma que conhecia sim o marido e que ele não era capaz de nada daquilo que Beth começa a achar ao mexer nas coisas do marido e suspeitar do encontro dele com outras mulheres. Será mesmo? Na medida então que seus colegas e vizinhos principalmente a colega Claire (Sarah Goldberg) e o vizinho Mel (Vondie Curtis-Hall) vem essa mulher se entregar para a obsessão de descobrir tudo sobre essa possível vida secreta que Owen tinha, o longa adentrar nos mistérios que o texto apresenta da forma mais subjetiva possível e que deixa tudo muito em aberto para diversas possibilidades entre o que é real, o que é fruto da cabeça de Beth, e o que bem pode ser essa grande ameaça invisível que cerca a protagonista nessa grande casa isolada na floresta.  

No final, A Casa Sombria realmente mostra que existem segredos que mereciam ficar enterrados ali no escuro.

Avaliação: 3.5 de 5.

A Casa Sombria chega nos cinemas nacionais em 23 de setembro.

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