The Circle Brasil | Crítica

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A versão americana do reality show The Circle estreou na Netflix no começo de 2020, antes da pandemia do coronavírus, e uniu um combo de programa de competição com experimento social que tem dado o que falar desde então.

Convenhamos que a versão americana é bem boa, os participantes são extremamente carismáticos, e o programa tem um tom e ritmo bastante contagiante, mas a versão brasileira, que terminou seu primeiro ano agora, faz um programa, e um divertimento, infinitamente melhor e mais viciante.

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JP participante do The Circle Brasil | Foto: Netflix

Aqui, a grande sacada da Netflix foi ter colocado o programa brasileiro semanas depois que a versão americana coroou seu/sua vencedor/a. O hype já estava ali formado, o público brasileiro já tinha aprendido as regras do jogo, e claro, já sabia o que esperar da versão nacional. Sabia, pois The Circle Brasil abriu um chat próprio e falou: Circle, abrir chat…regras? que regras? huahauaha, enviar mensagem.

O maior diferencial, e um dos motivos, que talvez, The Circle tenha dado certo, e caído no gosto popular, foi justamente sair do modo tradicional da Netflix de lançamento e liberar semanalmente uma dose de episódios. O que deu um tempo a mais para pessoas assistirem, viciarem uns aos outros, e conversarem juntas sobre o mesmo tema. Se todos os episódios tivessem saído no mesmo dia, a produção correria o risco de ter ficado escondida no meio dos inúmeros programas que a Netflix lança todos os dias.

A versão nacional seguiu a fórmula americana e liberou 4 episódios de uma vez, toda quarta-feira, mas como a versão brasileira conseguiu superar a americana? Fácil, os produtores perceberam a necessidade de se adaptar, e moldar o jogo para a realidade do público daqui. The Circle Brasil é carregado de uma brasilidade gigante, o que contribui e muito, na conexão do público com os participantes, muito mais do que com as regras, e com o próprio desafio em si, de se vencer o programa. E claro, acerta em criar uma gigante identificação nossa, com cada um deles, que vem de regiões completamente diferentes do Brasil, e com personalidades completamente opostas um do outro.

Isso tudo, ajudou o The Circle Brasil ter um DNA próprio, coisa que fica claro, quando assistimos aos episódios. Há diversos momentos, e narrativas, que vimos na versão americana, mas é a forma, e o jeito, de que muitos momentos foram contados que fizeram completamente a diferença no The Circle Brasil. E o marketing da Netflix já começou bem, primeiro pela contratação de Giovanna Ewbank, uma atriz global super conhecida, mas que precisa se soltar um pouco mais com a sua narração sobreposta, até mesmo pela famosa lista divulgada pela metade (o famoso #AImprensaQueLute). O acerto mais louvável foi principalmente pelo elenco dos nomes escolhidos para formar essa primeira temporada.

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Rob participante do The Circle Brasil | Foto: Netflix Brasil

The Circle Brasil é a representação de um Brasil gigante, com diversos tipos, raças, e estilos. E isso fica claro desde do primeiro episódio ao conhecermos os participantes que começam este jogo, desde da figura esfuziante de Dumaresq, passando pela contagiante Marina, o jovem pilhado Akel, a gente boa Loma (com um fake bem mais ou menos), o tímido gamer Gaybol, e as figuras mais modelete de JP e Ana Clara. The Circle Brasil, e seu elenco de primeiros participantes, entregam uma mistura de um Brasil cheio de peculiaridades que só um país tão grande como o nosso tem. O mesmo vale para os participantes que entraram nos episódios seguintes, com destaques para os gêmeos Lucas e Marcel, e sua fake Luma, assim como, o estrategista Raf e a figura de sua amiga Anna (conhecida do público das antigas na internet).

Conheça os participantes do The Circle Brasil!

The Circle Brasil, assim como a versão americana, focou muito mais em não ir atrás dos perfis fakes, e sim contar sua própria narrativa onde vence o participante mais autêntico, aquele que realmente se doou mais no jogo, principalmente se pensarmos na trajetória de quem acabou sendo o vencedor (SEM SPOILERS) na versão brasileira. E claro, ao vermos, ao longo do programa, as saídas de participantes que eram considerados “fortes” ou “estrategistas demais”. Assim, a combinação explosiva de um elenco super diversificado, com a fórmula do sucesso das outras versões tinha tudo para fazer The Circle Brasil ser um bom reality show.

E o programa é sim muito bom, mas o entendimento da produção em que eles precisavam se desvincular da versão americana foi o grande chamariz para The Circle Brasil ser uma receita de sucesso, e um estrondoso sucesso em época de quarentena.

As provas diferenciadas, como uma que mostra um carnaval fora de época, os jogos mais apimentados em que os participantes poderiam falar no anônimo um com outro no chat, e as mudanças nas regras do jogo em quase todo episódio, como a entrada de um super-influenciador na metade da temporada, foram o grande diferencial que The Circle Brasil entregou, e o faz ser infinitamente melhor que as outras versões do programa no streaming.

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Marina participante do The Circle Brasil | Foto: Netflix Brasil

The Circle Brasil não precisa de uma validação de fora do país, como nos últimos dias andou rolando no Twitter por perfis de usuários que acham que só pelo fato de sair na gringa é sucesso, e sim, do seu próprio público que já é viciado em reality show há mais de 20 anos, sabe o que quer, e o que esperar de um programa desse nível. The Circle Brasil entrega uma primeira temporada super consistente e extremamente agradável de ser acompanhar, pois soube se adaptar a realidade do brasileiro, principalmente do usuário jovem, hiperconectado que não quer esperar um programa compilado à noite na TV aberta, e sim, acompanhar a casa a hora que ele quiser, e ver quantos episódios ele quiser de uma vez.

No final, The Circle Brasil entrega reality show geolocalizado sem perder seu ar global, para as novas eras, para um novo tipo de público, e em uma nova forma de se consumir entretenimento numa sociedade cada vez mais conectada. Hashtag é #BrasilNaNetflix fazendo bonito.

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