Os Cavaleiros do Zodíaco | Crítica da 1ª Temporada

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“Tudo fará sentido no fim”.

A fala, dita por Marin de Águia no segundo episódio de Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, nova série da Netflix e que se se propõe uma releitura audaciosa da obra de Massami Kurumada, nunca fez tanto sentido.

Com parte da primeira temporada disponível no catálogo da gigante de streaming desde sexta-feira, Os Cavaleiros do Zodíaco (em bom e velho português) pegou carona em vários elementos da série ao longo dos anos e fez uma “grande salada de frutas”: tem cenas do clássico, roteiro do mangá, narrativa de Os Cavaleiros do Zodíaco: Next Dimension, visual de A Lenda do Santuário, elementos de Os Cavaleiros do Zodíaco: Ômega e por aí vai… O resultado é uma meia-temporada apressada, mas coesa naquilo que se apresenta a mostrar.

Nos primeiros seis capítulos – os próximos serão disponibilizados em algum momento do segundo semestre de 2019, vemos Seiya – sempre ele – aprendendo os conceitos de cosmo, lutando para encontrar a irmã e descobrindo um mundo maior que sonhava. Com os conceitos básicos da trama original, porém, com uma roupagem diferente para conversar com a juventude pós-anos 2000, Saint Seiya (para os íntimos) passou por diversas mudanças, mas não perdeu sua essência: o foco na amizade.

No fim dos episódios o que fica claro é que Eugene Son, roteirista dessa nova versão, fez um trabalho primoroso de pesquisa, elaborando uma nova aventura sem deixar de lado características essenciais e easter eggs para os mais atentos: quem não reparou que Seiya está usando o mesmo pijama de quando lutou contra Aiolia no início da Saga do Santuário? Ou que o vilão Vander Graad é a cara de Jango – inimigo mortal de Ikki na Ilha da Rainha da Morte? Ou então as ombreiras do Cisne, que vieram diretamente de Ômega? São detalhes como esse que fazem com que essa nova produção, desenvolvida pela Toei Animation, tenha seu mérito: mesmo sendo feito para um público que não é você, ainda te abraça e diz: “Calma, sei que você está com raiva e queremos te dar essas referências como um presente“.

Shun mulher? Realmente me incomodou no início. O cavaleiro de Andromeda era querido por todos e trazia certa representatividade, contudo, não podemos esquecer que ele foi fruto de uma época. Na metade dos anos 80, assim como hoje, a androgenia era algo super popular no Japão e personagens com tal descrição atiçavam o público feminino. Não é a toa que Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco é reconhecido no oriente por seus belos rapaz, com grandes e volumosas madeixas. Modificar Shun teve a mesma representatividade que fizeram com Miro, em Os Cavaleiros do Zodíoaco: Lendas do Santuário – contudo, dessa vez, usaram um personagem que também era uma minoria. Prova que a ideia não seria transformar todos os personagens andróginos da série, tanto é que vemos Misty com toda a sua personalidade nos segundos finais dessa leva de episódios.

Bem, não preciso dizer que eu gostei da nova série. Consegui assistir aos capítulos com a visão totalmente aberta (e olha que sou da época de fãs da Manchete, e me orgulho em dizer que vi o primeiro episódio de Os Cavaleiros do Zodíaco ser transmitido no Brasil, no Clube da Criança). É como se fosse uma realidade alternativa, criada por Chronos, onde a história se repetia, de forma diferente.

Temos Seiya e seu cosmo, o sumiço de Seika, Mitsumasa Kido tendo mais função, inclusive a de mostar um novo vilão, o tal Vander Graad, o Torneio Intergalático mais contido, com direito a um bueiro falante, além de mudanças significativas nos cavaleiros negros e sua construção. Alguns podem ter achado estranho até mesmo a ausência das máscaras de Shina e Shun, afinal, temos Marin guardando o seu segredo…

O fato é que Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco não vai acabar com a sua infância, não vai destruir o anime clássico (que está inalterado e vendendo bem por aí) e nem vai fazer com que abandonem a história original. É uma nova força, assim como aconteceu com várias outras propostas no mundo de Saint Seiya. Torcer contra? Nunca. Como fãs, precisamos exigir qualidade, sim, mas sempre apoiar obras desse vasto universo, porque senão, Os Cavaleiros do Zodíaco se transformarão naquela estrela longínqua e, com o tempo, sua estrela irá se apagar.

Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco tem seus 6 primeiros episódios já disponíveis na Netflix.