Bird Box | Crítica

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Nem toda atmosfera de suspense que Bird Box (2018) acerta em construir consegue esconder algumas falhas de adaptação que o filme entrega. Mas, pelo lado positivo, todo o carisma de sua protagonista, a competente Sandra Bullock e sua presença forte e marcante em tela, ajudam a driblar esses eventuais problemas, onde a atriz se destaca, num filme que sabe ser angustiante na medida certa.

Sandra Bullock in Bird Box (2018)
Bird Box Crítica | Foto: Netflix

Baseado no livro, lançado no Brasil com o título de Caixa de Pássaros, a produção nos leva, via sequências em flashbacks que vão e voltam na trama, a conhecer mais sobre a jornada de Malorie (Bullock). Logo de cara conhecemos a moça que vive em uma casa perto de uma floresta com duas crianças, onde eles precisam enfrentar uma perigosa missão: atravessar um rio com uma forte correnteza.

Mas com isso, o filme nos apresenta para um importante detalhe, eles precisam usar vendas nos olhos o tempo todo. Cruzar aquele rio, parece uma tarefa impossível certo? Assim, Bird Box começa com essa chocante realidade em que os personagens vivem num mundo onde são obrigados a viver vendados e não podem fazer muito barulho para evitar chamar atenção para si.

Bird Box então, abre sua grande caixa, e o roteiro de Eric Heisserer, vai aos poucos, como se fossem caixas pequenas que aparecem devagar ao longo do filme, completar, a narrativa do filme e de como esses personagens chegaram nessa situação. O filme é como uma daquelas pequenas bonecas russas, onde, a cada flashback e a cada retorno para as sequências no presente vamos por descobrir mais sobre os personagens e o longo caminho que eles percorrem até chegar onde eles se encontram.

E isso tudo pelos olhos (vendados) de Malorie

Então, somos apresentados para a grande questão do longa, a população vive num futuro onde são atacados uma força misteriosa ou entidades que deixam quem os enxergam loucos ao enfrentarem seus piores pesadelos. Bird Box, assim, nos apresenta um grupo de total estranhos e sobreviventes que se reunem quando a ameaça se torna global. Temos, então, aquela famosa união de um grupo com personalidades completamente diferentes entre si, onde o espectador é convidado a embarcar na história e saber o que aconteceu com todos eles, afinal, no futuro só vemos a personagem de Bullock e as duas crianças e a pergunta que fica é onde estão e o que aconteceu com os outros?

Aliados à uma ótima Sandra Bullock, Bird Box é marcado por outras atuações que valem serem assistidas, com destaque para John Malkovich como Douglas, um senhor ranzinza e preconceituoso e de Danielle Macdonald como Olympia, uma jovem grávida perdida no meio do caos, onde junto com Trevante Rhodes, o trio dá uma encorpada no filme que foca, um pouco, pelo menos no seu miolo, na parte dramática e de todos conflitos de uma convivência apocalíptica. A rápida participação, da sempre excelente, Sarah Paulson, é como se fosse uma reunion de Oito Mulheres e Um Segredo (2018), onde as duas atrizes parecem, novamente, se divertirem em cena por mais triste e cheio de conflitos que toda a trama entre as duas se desenrola.

Bird Box Crítica | Foto: Netflix

Bird Box é um filme cheio de perguntas e que aos poucos entrega suas respostas. O que é a entidade? Quem sobreviveu no futuro? Quem vai morrer? E para que serve os pássaros? E claro, isso tudo é muito mais fácil de fazer num livro, aqui em Bird Box parece que as questões precisam ser sempre mostradas em tela para depois lembrar ao espectador que elas sempre estiveram lá.

E isso, talvez, acaba por ser um dos maiores problemas maiores do filme. Nessa adaptação muitas das situações e passagens são literalmente escancaradas na cara do espectador para avisar que “aquilo tem importância e preste atenção aqui em mim”. É como se o roteiro de Heisserer não confiasse no espectador e tudo isso acaba por deixar o filme com um sentimento que você precisa assistir e terminar para descobrir o que vai acontecer de qualquer forma, mesmo que a experiência não seja das melhores, o que acaba por deixar a produção ao mesmo tempo cansativa e  interessante de se acompanhar.

As situações e os conflitos, acabam, também, por conseguir fazer com que o filme fique com um aspecto extremamente realista, o que é visto no longa durante as passagens de como os sobreviventes vão sair da casa fechada e ir até o super-mercado quando os mantimentos acabam ou como eles irão  dirigir com as janelas todas cobertas para não serem pegos pela entidade.

Em Bird Box, Susanne Bier faz boas passagens, em que a diretora consegue capturar e fazer um bom trabalho de direção com tomadas que mostram os personagens com vendas e olhos tapados se virarem nessa caótica realidade. Destacamos, aqui, uma cena em especial, onde os sobreviventes estão dentro do carro sendo guiados pelo GPS até que são atacados pelas entidades que são alertadas pelo sensor de movimento num tenso momento que acaba por ser muito bem executado.

Assim, todo o mistério envolvendo a entidade, sua forma e seus poderes acabam por roubar uma página do ótimo Um Lugar Silencioso (2018), onde Bird Box opta por não dar uma personificação para seu maior problema. É como se o filme fosse um parente distante da produção dirigida por John Krasinski, onde o sentimento e a expectativa de ver, projetar e dar um corpo para o que aflige os personagens acaba por deixar a trama muito mais no campo das idéias do que qualquer outra coisa. 

No final, Bird Box deve a empolgar pelo mistério envolvido para quem nunca leu o livro ou que chega no filme as cegas e sem saber muita coisa. O ponto alto, fica com Sandra Bullock que se destaca ao entregar uma personagem complexa, interessante e bem desenvolvida pelo roteiro. E tudo isso faz com que Bird Box, seja, em sua essência, um filme sobre o amor e a capacidade de se amar dentro de um cenário completamente tenso e difícil de se imaginar.

Nota:

Filme visto durante sua pré-estreia na CCXP 2018.

Bird Box chega na Netflix em 21 de Dezembro. 

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